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SUSTENTABILIDADE

Após três meses seguidos de queda, a produção industrial retomou o fôlego em maio ao crescer 0,6%, frente a abril. O resultado foi influenciado pelo aumento de 1,2% na produção de semiduráveis e não duráveis. A melhora do desempenho na margem é vista, no entanto, como pouco sustentável pelos analistas. Na comparação com maio do ano passado, a indústria recuou 8,8% – a 15° queda nesse tipo de comparação. Já no acumulado de janeiro a maio, a retração é de 6,9%, e nos últimos 12 meses, de 5,3%.

- Foi uma surpresa positiva, visto que todas as estimativas apontavam para uma forte retração. Apenas o Ibre contava com uma projeção mais otimista, de queda de 0,1%. Mas é difícil que esse desempenho seja sustentado – afirma o consultor da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), Silvio Sales. 

De acordo com a Pesquisa Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 14 dos 24 ramos pesquisados apresentaram aumento na produção na passagem de abril para maio. Os dois setores que mais influenciaram o resultado positivo foram outros equipamentos de transporte, com alta de 8,9%, e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, que expandiu 1,1%. Atividades que, no entanto, não traduzem o comportamento mais geral da indústria.

Segundo análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o comportamento do primeiro ramo reflete, sobretudo, as vendas de aviões para o mercado externo, que contam com os efeitos positivos da desvalorização cambial. Já o segundo têm relação com as decisões de produção da Petrobras.

Fora esses dois setores, destacam-se o aumento na produção de itens de consumo não duráveis e semiduráveis, como os produtos farmoquímicos e farmacêuticos, com crescimento de 3,6%; a confecção de artigos do vestuário e acessórios, alta de 3,4%; bebidas, com expansão de 2,7%; e perfumaria, sabões e produtos de limpeza, com aumento de 1,9% – todos na passagem de abril para maio.

O cenário mais adverso do mercado de trabalho põe em dúvida, no entanto, se essas atividades conseguirão manter esse bom desempenho nos próximos meses. Em maio, a taxa de desemprego medida pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE nas seis principais regiões metropolitanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre) subiu para 6,7%. Enquanto isso, o rendimento médio habitual do trabalho encolheu 1,9% em maio e 5% frente a maio do ano passado.

- Ao longo da série do IBGE, iniciada em 2002, não tínhamos observado, até agora, uma sequência de sete meses consecutivos de queda dos semiduráveis e não duráveis, na comparação mensal. Logo, acredito que esse aumento de 1,2% seja reflexo de um processo de acomodação, depois de longo período de decréscimo. Com estoques mais ajustados, talvez essas atividades tenham dado uma resposta mais positiva – diz Sales.

Os indicadores da Confederação Nacional da Indústria (CNI), também divulgados ontem, reforçaram a trajetória de recessão vivida pela indústria. Com exceção do faturamento – com alta de 1,6% ante a abril -, todos os indicadores caíram em maio.

As horas trabalhadas na produção encolheram 0,5%, na comparação com abril, e o emprego recuou 0,9%. Houve também queda na massa salarial de 1,2% e o rendimento médio real do trabalhador da indústria retraiu 0,3%.

- Os indicadores antecedentes, como a confiança dos empresários, apontam para quedas em junho, que devem repercutir em uma baixa produção também em julho. Isso reforça a nossa análise de que a produção industrial continuará fraca e esse resultado de maio não deve constituir uma tendência – afirma o economista Rodrigo Miyamoto, do Itaú.

Fonte: Brasil Econômico



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