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SOJA LOUCA DOIS

Batizado de soja louca 2, pode ter sido esclarecido por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). O nematoide Aphelenchoides sp. foi apontado em estudos como agente causador do problema e essa descoberta foi apresentada na semana passada durante o 7º Congresso Brasileiro de Soja, em Florianópolis (SC).

As perdas nas áreas afetadas pela soja louca 2 têm sido caracterizadas pela redução da produtividade em função do elevado índice de abortamento de flores e vagens e do alto percentual de desconto no valor da soja, devido a presença de impurezas, ou seja, pedaços de tecido verde e grãos podres, que propiciam apodrecimento da massa de grãos.

A incidência de soja louca 2 aumentou significativamente a partir da safra 2005/2006, principalmente nas regiões produtoras mais quentes do Brasil – Maranhão, Tocantins, Pará e Mato Grosso. Os maiores índices de ocorrência da doença foram em anos com maior frequência de chuvas, na entressafra e início de safra.

Desde 2011, a Embrapa Soja implementou um projeto de pesquisa multidisciplinar em parceria com várias outras instituições, com o objetivo de investigar as possíveis causas da doença e dar suporte ao monitoramento da ocorrência do problema no Brasil. Essa pesquisa, identificou a presença sistemática do nematoide Aphelenchoides sp. nas amostras analisadas de tecidos de plantas com sintomas de soja louca 2, com maior concentração em nós reprodutivos e folhas sintomáticas.

Segundo o pesquisador da Embrapa Soja Maurício Meyer os sintomas da doença foram reproduzidos em plantas sadias, inoculadas com Aphelenchoides sp., indicando que a presença do nematoide tem implicações na manifestação do problema. De acordo com ele, após exaustivos estudos da doença, foram descartadas as hipóteses de possíveis causas por ácaros ou vírus.

- Ainda não foi confirmada nenhuma das causas abióticas estudadas, tais como desequilíbrio nutricional, efeito de herbicidas e efeito de ambiente – ressalta.

O estudo observou ainda que sistemas de cultivo com rigoroso controle de plantas invasoras, em pré e pós semeaduras, têm revelado maiores reduções da incidência de soja louca 2.

De acordo com a pesquisadora da Epamig Luciany Favoreto, amostras da parte aérea das plantas com sintomas de Soja louca 2 foram analisadas no laboratório de Nematologia da empresa, em Uberaba, no Triângulo Mineiro, no período de março a este mês. Segundo a pesquisadora, esses resultados foram muito importantes para a continuidade dos estudos.

- Com uma população pura do nematoide foi possível realizar o estudo conhecido como ‘Postulado de Koch’, que preconiza que o patógeno vindo de uma cultura pura deve ser inoculado em plantas sadias da mesma espécie ou variedade na qual apareceu, e deve provocar a mesma doença nas plantas inoculadas – disse ela. 

Luciany explica que o patógeno puro foi enviado para o Maurício Meyer, que inoculou em plantas de soja sadias e observou que após 12 dias, as plantas começaram apresentar os mesmos sintomas das plantas doentes.

- Estas plantas doentes foram-nos enviadas, e em análise em nosso laboratório, observou-se uma expressiva quantidade do nematoide. Dessa forma, provou-se que o Aphelenchoides sp. é o provável agente causador da soja louca 2 – diz a pesquisadora.

Ela acrescenta que as populações puras, que estão sendo multiplicadas no laboratório de Nematologia da Epamig, serão úteis para estudos posteriores sobre a patogenicidade e a taxonomia.

Segundo os pesquisadores, o próximo passo será implementação de novos estudos voltados para investigação dos aspectos da biologia do nematoide tais como as formas de sobrevivência, plantas hospedeiras alternativas, colonização e infecção na soja, para definir claramente as medidas de controle a serem preconizadas.

Vazio fiscalizado 

Com foco na prevenção e controle da ferrugem asiática da soja, doença causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, o vazio sanitário dessa cultura será realizado em Minas Gerais, de 1º de julho a 30 de setembro, conforme Resolução 1.393/ 2015 da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) e a Portaria 1.503/2015 do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). Nesse período, o plantio do grão será proibido em todo o estado, exceto para as situações previstas na legislação, desde que autorizado. A fiscalização ficará a cargo do IMA. Estão programadas cerca de 600 fiscalizações em propriedades rurais. A produção de soja em Minas alcançou 3,33 milhões de toneladas em 2015.

No período do vazio sanitário, outra medida de proteção à produção de soja consiste na eliminação das plantas voluntárias ou remanescentes das últimas safras, com a utilização de produtos químicos ou de outras formas de erradicação, de acordo com o gerente de Defesa Sanitária Vegetal do IMA, Nataniel Nogueira. Ele ressalta que a responsabilidade fica por conta de cada produtor.

- Se todos fizerem a sua parte, teremos menos gastos com agrotóxicos para eliminar a plantação antiga e mais chances de fazer o total aproveitamento da nova safra – afirma.

Nogueira alerta que a disseminação da ferrugem, que destrói a cultura da soja, é feita pelo vento e que apenas uma planta infectada é capaz de reproduzir milhões de uredosporos (unidades de reprodução), que se alastram para vários lugares em pouco tempo.

Na safra 2013/2014 foram constatados cinco casos da doença em Minas, e na safra 2014/2015 foram três, o que mostra que está havendo conscientização e compromisso por parte dos produtores e a eficiência do vazio sanitário. Só áreas de pesquisa científica e de produção de sementes genéticas, devidamente autorizadas, controladas e monitoradas pelo IMA, ficam isentas da medida.

Fonte: Estado de Minas



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