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SAFRA CHEIA

A safra de soja norte-americana será maior que a prevista, apesar das previsões de que levantamento divulgado nesta quarta-feira (12) pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) fosse baixista. A um mês do início do plantio, o Brasil vê seu principal concorrente no mercado internacional — e a soja é o principal produto de exportação brasileiro, mais importante que minério de ferro ou petróleo — avançando bem com lavouras em florescimento e frutificação.

Mas o Brasil também tem a chance de produzir mais, chegando perto de 100 milhões de toneladas. E como a soja brasileira estará mais barata no mercado internacional, devido à desvalorização do real, o país poderá inclusive elevar as exportações da commodity entre 2015 e 2016. O próprio USDA elevou sua previsão sobre as exportações de soja do Brasil de 50,75 milhões de toneladas (divulgada em julho) para 54,50 milhões de t (agosto).

Para o milho brasileiro, que também está ficando mais barato pela “mágica do câmbio”, a previsão foi elevada de 23 milhões para 24 milhões de toneladas. Isso implica em recuo na estimativa para os embarques norte-americanos em 2015/16, que caiu de 48,31 milhões para 46,95 milhões de toneladas na soja e de 47,63 milhões para 46,99 milhões no milho.

Para justificar o corte, o Usda cita justamente a competição com países como Brasil e Argentina, que, por causa do câmbio, têm conseguido colocar seus grãos no mercado internacional a preços mais atrativos para os importadores. Por isso, as vendas da safra que os EUA se preparam para começar a colher dentro de um mês correm muito atrás do registrado um ano atrás, quando os compradores antecipavam os negócios diante da expectativa de uma oferta mais apertada.

Até o final de julho, os norte-americanos haviam acertado com importadores a venda de apenas 9 milhões de toneladas de soja e 4,6 milhões de toneladas de milho — quase metade do volume vendido nesta mesma época de 2014, segundo acompanhamento do próprio Usda. O Brasil, por outro lado,  já teria negociados com compradores internacionais perto de 25 milhões de toneladas de soja, o equivalente a cerca de um quarto da safra que vai começar a semear no mês que vem — e que será colhida somente no início de 2016.

Soja 

O Usda surpreendeu o mercado e projetou uma safra de soja maior para o país em 2015/16. Em novo relatório de oferta e demanda, divulgado hoje, o órgão sinalizou que a produção da oleaginosa norte-americana deve totalizar 106,5 milhões de toneladas, ante 105,7 milhões de toneladas projetados em julho. O índice também superou com muita folga as estimativas do mercado, que esperava retração para 101,2 milhões de toneladas.

O ajuste foi realizado com expectativa de aumento na produtividade das lavouras, já que a projeção de área plantada caiu de 34,6 milhões para 34,1 milhões de hectares. A maior redução foi verificada em Missouri, um dos três estados em que o órgão conduziu uma pesquisa extra no final do mês passado para reavaliar o impacto do clima excessivamente úmido na área de cultivo de soja.

Na avaliação do Usda, estados que não foram prejudicados pelo clima — como Arkansas, Geórgia, Michigan, Minnesota, Nebraska, Dakota do Sul e Virginia, segundo o relatório — devem ter rendimentos recordes em 2015, anulando possíveis perdas em localidades mais afetadas e puxando para cima a produtividade média nacional. A revisão dos números elevou também as projeções para os estoques norte-americanos, agora estimados em 12,8 milhões de toneladas. Para 2014/15, o USDA reduziu a sua estimativa de 6,9 milhões para 6,5 milhões de toneladas.

A elevação dos números dos Estados Unidos impacta nas estimativas de produção mundial de soja. Espera-se uma oferta de 320 milhões de toneladas, ante 319 milhões de toneladas no cálculo anterior. Deste total, 97 milhões de toneladas virão do Brasil, enquanto a safra argentina deverá ficar em 57 milhões de toneladas. Apesar da produção maior, um consumo global mais aquecido deve reduzir os estoques de passagem mundiais em quase 5 milhões de toneladas na comparação com a estimativa de julho, para 86,9 milhões de toneladas.

Milho

O reajuste para cima também contempla o milho produzido nos Estados Unidos. Conforme o Usda, a produção do país chegará a  347,6 milhões de toneladas em 2015/16, superando as 343,7 milhões de toneladas previstas no mês passado. A área de cultivo foi mantida em 35,9 milhões de hectares, mas a produtividade foi elevada para 10,6 mil quilos por hectare.

- Os produtores da porção leste do Corn Belt foram prejudicados pelo excesso de chuvas durante toda primavera e o início do verão, mas os demais estados do cinturão de produção de grãos experimentaram condições favoráveis que devem resultar em produtividade recordes em vários estados, incluindo Iowa, Michigan, Minnesota, Nebraska, Dakota do Sul e Wisconsin – explicou o órgão em comunicado divulgado à imprensa.

O reajuste não impediu redução na projeção da oferta global do cereal, agora calculada pelo Usda em 985,6 milhões de toneladas, contra 987,1 milhões de toneladas em julho. O Brasil teve a estimativa elevada de 77 milhões de toneladas para 79 milhões de toneladas. A China deverá produzir 225 milhões de toneladas, ou quatro milhões de toneladas a menos em relação ao estimado em julho. A safra da Argentina foi mantida em 25 milhões de toneladas.

Com produção maior, os estoques de passagem mundiais foram reajustados para 195,1 milhões de toneladas, com forte incremento ante as 189,9 milhões de toneladas previstas no mês passado. O mercado esperava um número próximo de 188,7 milhões de toneladas.

Para 2014/15 o Usda repetiu a projeção de safra de 361,09 milhões de toneladas. Ainda assim, a projeção para o Brasil foi elevada de 82 milhões de toneladas, para 84 milhões de toneladas.

Metodologia

Para compilar os números do relatório divulgado hoje – o primeiro da temporada de usar dados de pesquisa de campo e análise de lavouras – o Usda entrevistou aproximadamente 23 mil produtores em todo o país e realizou visitas a campo e análises laboratoriais de amostras colhidas nos principais estados produtores que representam cerca de 75% da produção norte-americana. O intervalo de confiança da pesquisa é de 90%, com margem de erro de 11,5% para a soja e de 7,5% no milho.

Mercado 
Como reflexo do relatório a soja registrou queda expressiva na Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT), chegando a cair mais de 7% minutos após a revisão dos números. Às 13h45, a posição agosto recuava 5,92%, sendo cotada a US$ 9,59 por bushel. O milho cai 4,51% no vencimento setembro/2015, valendo US$ 3,59 por bushel.

Fonte: Gazeta do Povo



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