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Renda agropecuária deve alcançar R$ 939 bilhões em 2021, projeta Mendonça de Barros

Com a alta expressiva dos preços das commodities e a valorização do dólar frente ao real, a agropecuária brasileira vive um momento único na história. O panorama foi apresentado pelo especialista em agronegócio Alexandre Mendonça de Barros, durante a posse da diretoria da FAEP, no dia 11 de março, realizada de forma online.

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Dados apresentados por Mendonça de Barros indicam que 2020 foi
extraordinário para o campo. Nos últimos quatro anos, os rendimentos
agropecuários giraram em torno dos R$ 600 bilhões por temporada. De 2019 para
2020, foi registrado um crescimento de 10,6%, atingindo R$ 689 bilhões. Se as
projeções para a safra 2020/21 se concretizarem, a renda agropecuária pode
fechar 2021 na casa dos R$ 939 bilhões, o que representa um salto de 36,3%. “Não
há precedente histórico para o que estamos vivendo na história da economia
agrícola”, avaliou.

Segundo o especialista, a recuperação da demanda em vista da retomada do
crescimento econômico em países cuja vacinação já está em um patamar mais
avançado, como os Estados Unidos, gera uma expectativa positiva para as
exportações do Brasil. Ainda, há a mudança da postura de comércio global, com a
tendência de menos conflito no mercado e mais fluidez nos negócios.

Depreciação do real

No cenário global, a pandemia do novo coronavírus aqueceu a demanda
mundial por commodities agrícolas, sustentando os preços. Mas, a taxa de câmbio
também garantiu a renda dos produtores rurais brasileiros. A depreciação do
real manteve em alta os preços dos produtos exportáveis, principalmente da
soja, e tornou a logística brasileira mais barata, aumentando a competitividade
do país.

Neste contexto, Mendonça de Barros destacou, como um dos motivos, a explosão do déficit fiscal do governo federal, que vem acontecendo desde o ano passado. “Com a economia em decadência, houve a necessidade de fazer um voucher, que foi uma política fiscal muito importante para segurar a queda do PIB (Produto Interno Bruto). No entanto, gerou um crescimento do endividamento e, conforme isso foi subindo, o real continuou se depreciando”, apontou.

Ainda, o quadro de depreciação do real associada à alta do preço das
commodities gera um forte cenário inflacionário. Segundo análise do
especialista, todos os estudos estão convergindo para uma inflação superior às
expectativas – acima de 5% até o final de 2021.

“Há um ciclo de elevação na inflação e, portanto, da visão da alta da
taxa de juros para conter este cenário inflacionário”, pondera. “O fato de a
vacinação estar atrasada no Brasil também gera uma percepção por parte dos
agentes econômicos que a atividade econômica vai perder força”, complementou
Mendonça de Barros.

Com os novos decretos de lockdown,
o alto índice de desemprego, o crescimento expressivo do custo de vida e novos
gastos públicos com o auxílio emergencial, o índice de confiança do mercado
econômico brasileiro se abala, o que reforça este cenário de depreciação do
real, principalmente em relação ao dólar, e preços internos elevados.

Apesar do momento favorável para o agronegócio brasileiro, Mendonça de
Barros recomenda cautela, principalmente devido à elevação de custos com
insumos agropecuários e preços inflados de ativos importantes para o produtor
rural, como terras e maquinários.

Demanda e estoque

Diante da retomada da demanda mundial, o especialista alerta para os
estoques globais. As projeções de estoques de soja dos EUA para o fim do
ano-safra, em agosto, estão extremamente baixas, principalmente por causa da
China, que vem comprando um alto volume da oleaginosa norte-americana.

Desde o surto de Peste Suína Africana (PSA), a China passou pelos maiores
investimentos na história de sua suinocultura, com a reconstrução de rebanho
totalmente pautada em cima de ração – o que levou a uma dinâmica de compra mais
agressiva no mercado de soja e também de milho, visto que a demanda chinesa
está superando a produção interna.

Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o país
possui um estoque de apenas 3 milhões de toneladas de soja, comparado aos 17
milhões de agosto de 2020. No mesmo período, os estoques norte-americanos de
milho também sofreram uma redução significativa, de 70 milhões de toneladas
para 38 milhões.

“Este cenário de estoques baixos deixa o mercado tenso. Mesmo que as
próximas safras no Hemisfério Norte sejam relativamente boas. A tendência é
continuar com estoques baixos, apertados e perigosos. Qualquer risco climático
pode gerar uma tensão muito grande”, advertiu Mendonça de Barros.

Para o setor sucroenergético, o especialista avaliou que há um movimento
importante de preços do açúcar no mercado mundial, com ofertas menores. A
elevação no preço do petróleo e o real depreciado também pressionam o preço do
álcool. Para o café, há a volta da demanda das cafeterias na Europa e nos EUA,
diante de uma safra reduzida em razão da seca, associada ao aumento de preços.

Pecuária

Diante do cenário econômico positivo para o mercado de grãos, o setor de
proteína animal também vem se beneficiando com a alta do dólar. “O choque de
preços vem impulsionando a elevação do preço da proteína animal em todo o
mundo. Há um ciclo econômico favorável lá fora, junto com o aumento de demanda
e, portanto, corrobora para preços elevados”, explica Mendonça de Barros.

A suinocultura brasileira foi impactada positivamente com o aumento de
demanda da China ao longo de 2019. Apesar da recuperação do país do surto de
PSA e o início da reconstituição do rebanho chinês em 2020, há indícios que uma
segunda onda da doença reverta o ciclo. Segundo Mendonça de Barros, a
sinalização clara é a redução da oferta interna chinesa. “Isso é
importantíssimo para as exportações brasileiras de suínos, de frango também, o
que mantém o mercado doméstico enxuto e preços elevados para compensar o custo
da ração”, assinalou.

Na pecuária de corte, o especialista avaliou o momento como “exuberante em termos de formação de preços e um reinado absoluto para o criador de bezerros”. Os altos preços e a escassez de oferta de bezerros induziram uma forte retenção de fêmeas, o que encurtou a oferta de gado. “O que deve manter preços elevados para a pecuária é a dinâmica do mercado internacional, com maior demanda, alto preço da arroba e real depreciado”, frisou.

Conforme a análise de Mendonça de Barros, a Austrália vive um ciclo semelhante de retenção de carne e redução das exportações, o que pode beneficiar bastante o Paraná. “A carne bovina australiana tem uma presença importante em países como China e Japão, que pagam mais. Com isso, há a possibilidade de abertura de mercados, o que vai levar a pecuária paranaense a um novo patamar, junto também de um aval sanitário muito importante”, concluiu.

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Fonte: Sistema FAEP



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