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CLIMA AJUDA NA QUEDA DO PIB

As culturas com safra no segundo trimestre foram afetadas por adversidades climáticas, principal explicação para o recuo de 3,1% da agropecuária no PIB na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, explicou a gerente de Contas Trimestrais do IBGE, Claudia Dionísio.

O IBGE alerta que a expectativa para o ano é de queda na quantidade produzida e também na produtividade para milho, arroz, algodão, feijão e a soja, carro chefe da lavoura brasileira. No caso da soja, a perspectiva é de retração de 0,9% na safra produzida, enquanto a área plantada deve crescer 3,2%. Na prática isso significa que a produção por hectare será menor.

Fatores transitórios

O presidente-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, disse que os fatores que pressionaram o Produto Interno Bruto (PIB) da Agropecuária no segundo trimestre de 2016 foram transitórios e que devem ser minimizados daqui para frente.

- A queda não foi uma surpresa já que tivemos uma safra de milho com 12 milhões de toneladas a menos do que o previsto. Em consequência disso houve um desbalanceamento na cadeia de aves e suínos, que passou a reduzir sua produção – disse Turra à Agência Estado, ressaltando que problemas climáticos afetaram a safra do grão.

Turra citou, ainda, a queda no ritmo da comercialização da safra soja no período, por causa de uma repentina queda de preços. O câmbio também foi um fator de instabilidade que prejudicou o setor, na opinião do dirigente.

- Tivemos momentos de altas e baixas – citou.

Para o segundo semestre do ano, ele avalia que uma valorização do real pode influenciar negativamente as exportações de carnes, o que traz apreensão para o setor. Ele disse que as condições climáticas estão favoráveis e devem impulsionar a safra de grãos.

- Há ânimo em todos os Estados produtores – disse. No entanto, o setor de aves e suínos pode reduzir ainda mais a produção no terceiro trimestre, enquanto não houver mais milho disponível no mercado. – Agora, dependemos muito da importação – afirmou.

O cereal é o principal insumo das indústrias de proteína, em alguns caso correspondendo a até 70% do custo da produção. O pico dos preços domésticos do cereal no primeiro semestre deste ano prejudicou as margens dos frigoríficos, fazendo com que muitas unidades deixassem de produzir ou elevassem seus níveis de ociosidade. No geral, sem arriscar dar números, Turra estimou que o resultado do PIB no próximo trimestre deve ser melhor do que o do segundo, mas que o saldo só será positivo a partir do primeiro trimestre de 2017.

Queda esperada

A queda do Produto Interno Bruto (PIB) da Agropecuária no segundo trimestre deste ano já era esperada, e a tendência ainda é de pressão sobre o setor no restante do ano, avaliou nesta quarta-feira (31/8), o sócio-diretor da MB Agro, José Carlos Hausknecht. Conforme ele, a produção menor de milho, feijão e arroz continuará a provocar impacto negativo.

- O setor de carnes também pode pesar. Isso porque os produtores de frangos ainda sofrem com os preços de milho, enquanto os criadores de bovinos confinaram menos – explicou.

Hausknecht destacou, ainda, que o câmbio prejudicou pouco o desempenho da agropecuária no segundo trimestre. Nos próximos meses, porém, poderá ser sinônimo de pressão, caso o governo de Michel Temer seja efetivado e concretize reformas na área econômica.

- Devemos ter uma boa pressão do câmbio, que para o agronegócio não é boa. Claro que no longo prazo tudo se equilibra – disse.

Uma depreciação mais expressiva do dólar poderá afetar a rentabilidade da cadeia agrícola, acrescentou.Mais cedo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que PIB do segmento caiu 2% no segundo trimestre em relação ao primeiro e 3,1% na comparação anual.

Conforme o próprio instituto, com exceção do café, que apresentou crescimento na estimativa de produção anual de 11,2%, as demais culturas com safra neste trimestre registraram decréscimo e perda de produtividade: milho (-20,5%), arroz (-14,7%), algodão (-11,9%), feijão (-9,1%) e soja (-0,9%).

O sócio-diretor da MB Agro lembrou que, no caso do milho, houve quebra de produção por causa de seca e redução na área plantada. Quanto ao arroz, o problema foram fortes chuvas na região Sul do País.

Necessidade de ajuste

O recuo do PIB da Agropecuária no acumulado do ano pode ser superior a 0,3%, na opinião do presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Gustavo Diniz Junqueira.

- Se não fizermos um ajuste fiscal robusto que reduza o risco Brasil significativamente, o agro brasileiro será menor – afirmou Junqueira.

Em maio, o representante havia feito uma previsão de queda de 0,3%, após o resultado negativo do primeiro trimestre deste ano e, agora, com a continuidade das perdas acredita em uma baixa maior.

No segundo trimestre, o desempenho do segmento caiu 2% em relação ao primeiro, enquanto na comparação anual o tombo foi de 3,1%, conforme dados divulgados mais cedo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De janeiro a março, a queda na comparação anual foi de 3,7% e ante o trimestre anterior de 0,3%.

- Clima e crédito são os principais atores na queda neste segundo trimestre – afirmou Junqueira.

Para ele, a dependência de recursos governamentais para agricultura oriundos dos depósitos à vista e poupança mostram agora a fragilidade do setor.

- O agro brasileiro não conseguiu ficar fora da crise histórica que vivemos – disse o dirigente.

Junqueira citou, ainda, como fatores que atrapalharam o setor, as taxas de juros mais altas e o aumento do risco Brasil combinado com uma estrutura de capital alavancada dos produtores e empresas do segmento, além do efeito climático que prejudicou as culturas de milho e soja. Sobre o câmbio, Junqueira afirmou que o efeito foi diferente para cada player da cadeia.

- Alguns travaram o preço e câmbio e outros, apenas uma parte. Minha visão é que contavam com um real mais fraco e, com isso, ficaram mais alavancados em reais – disse.

Tendência de recuperação

Com a expectativa de condições climáticas favoráveis às lavouras brasileiras e aumento da área de plantio de milho, a tendência é que o PIB da Agropecuária mostre alguma recuperação no resultado do terceiro trimestre deste ano, na opinião do diretor Técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz.

- Acredito que a produção deve se normalizar e a produtividade também – afirmou Ferraz.

Para ele, foi exatamente o clima o principal fator que levou a queda registrada no segundo trimestre deste ano. Mais cedo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou uma queda de 2% no segundo trimestre em relação ao primeiro trimestre deste ano. Na comparação anual, o recuo foi de 3,1%. Com exceção do café, que apresentou crescimento na estimativa de produção anual de 11,2%, as demais culturas com safra neste trimestre registraram decréscimo e perda de produtividade.

O milho apresentou a maior queda, com uma safra estimada em 68,0 milhões de toneladas pelo IBGE, redução de 20,5% em comparação com o ano anterior. Segundo o instituto, esta redução foi consequência das intempéries climáticas que prejudicaram a produção na primeira e na segunda safra.

Para Ferraz, com estas condições, a queda do PIB da Agropecuária já era esperada.

- Tivemos um ano em que a produtividade foi bastante afetada, principalmente do milho. Tivemos ainda quedas expressivas em arroz, algodão, feijão – afirmou.

No caso do algodão, que teve um recuo de 11,9%, segundo o IBGE, Ferraz destacou ainda condições negativas de mercado, que acabaram provocando uma queda no investimento na cultura. O analista evitou fazer uma previsão para o PIB do setor para o acumulado do ano, mas disse que espera que a partir do quatro trimestre o resultado possa ser positivo.

Fonte: Globo Rural



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