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ARGENTINA TEM EMBATE SOBRE VENDA DE ESTOQUES DE SOJA

A “bolha dos estoques” de soja da Argentina está prestes a estourar com os produtores locais prontos para vender sua safra e tentar garantir sua renda, já há tempos comprometida, segundo informa um levantamento do jornal britânico Financial Times.

Nos últimos anos, os produtores argentinos usaram sua soja como um ativo financeiro e um escudo contra a inflação e a depreciação da moeda local, já que as cotações são fixadas em dólar. Porém, o adido agrícola do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) na Argentina acredita que “a pressão de desvalorização cambial, o endividamento dos produtores e a disparada da demanda” deverão estimular as vendas desses estoques.

“Produtores, esmagadores e o governo só conseguirão manter essa queda de braço enquanto ninguém tiver de ceder”, pontua o relatório. A Argentina é o terceiro maior produtor mundial da oleaginosa, atrás somente dos EUA e do Brasil. O USDA estima que a safra 2014/15 de soja argentina some 57 milhões de toneladas, enquanto o Ministério da Agricultura local aposta em uma colheita podendo chegar a 58 milhões de toneladas.

A soja é um dos produtos agrícolas que podem ser armazenados por mais tempo, e isso permitiu que, diante das incertezas econômicas internas e, principalmente a possibilidade de uma nova política monetária com a mudança governamental, os estoques argentinos aumentassem. No início dessa temporada, o volume estocado era de 29 milhões de toneladas, ante 21,8 milhões registrada no mesmo período do ano comercial anterior, de acordo com números do USDA.

E esse movimento, paralelamente, fez as vendas de “silos-bolsa” também dispararam no país. O quadro fez, inclusive, com que o governo argentino tentasse, entre outras medidas que pudessem inibir a armazenagem, restringir as vendas de silos-bolsa com o estabelecimento de novas exigências de notificação para fabricantes e vendedores.

A medida não foi efetivada, porém, o órgão responsável (AFIP) agora mantém um registro do número de unidades fabricadas e vendidas, além do nome dos compradores e da quantidade adquirida por eles.O USDA realça ainda que a AFIP também censurou, mais de uma vez, “o uso especulativo dos silos-bolsa [pelos produtores], que conturba o mercado e impede que recursos providenciais ingressem no país”.

Nos últimos tempos, aumentaram os casos de vandalismo contra sojicultores na Argentina. Nos últimos seis meses, cerca de 50 silos-bolsa foram rasgados por intrusos, e autoridades acreditam que essa pode ter sido mais um forma de pressão para obrigar os agricultores a venderem as safras.

No final de 2014, o Notícias Agrícolas reportou ainda medidas do governo argentino pressionando os produtores locais com um corte na disponibilidade de crédito aos produtores de soja que estivessem armazenando soja.

Se os estoques forem desovados agora, a superoferta global de soja crescerá ainda mais e os preços da commodity, que já estão em queda na bolsa de Chicago, certamente recuarão ainda mais. O Ministério da Agricultura da Argentina informou que a a colheita da soja no país alcançou 20% da área cultivada na safra 2014/15. Na semana anterior, esse número era de 8% e, no mesmo período do ano passado, os trabalhos de campo já estavam concluídos em 15% da área.

Contraponto

Esse é um ano de eleições presidenciais na Argentina e, segundo explica Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, os produtores locais anseiam pelo fim da Era Kirchner na presidência da república e de mudanças, principalmente na economia do país. E alterações na política monetária, por exemplo, poderiam trazer uma nova relação entre o dólar e o peso de forma a favorecer a comercialização da soja no país.

 – O que a gente sente dos produtores da Argentina é que eles vão esperar o máximo possível para vender a soja que têm na mão para garantir a renda. Com os atuais níveis de preços e no dólar oficial local e mais a retenção de 35% de imposto que o governo coloca (sobre as exportações de soja), o produtor, mesmo colhendo uma boa safra, quase não tem lucro. A situação deles não é muito boa – diz Brandalizze. 

 

Fonte: Financial Times + NA

 



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