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SEMEADORES DA DISCÓRDIA

As redes sociais viram campos de batalha; entre ideias polarizadas, os “isentões” não têm vez; o debate é acalorado. Só um detalhe: não estamos falando de “coxinhas” ou “mortadelas”. Aqui o motivo da discórdia não é política, mas comida de verdade. Sim, são as uvas passas.

Quando chega a época de Natal e Ano Novo, elas invadem as mesas, pouco importa se o prato é doce ou salgado, numa tradição que atravessa gerações. Uns amam, outros odeiam. Mas o que poucos parecem saber é de onde vem a uva passa (e o quanto ela movimenta a economia natalina).

- Para nós, é só amor, nada de ódio – brinca Felix Boeing Junior, diretor da La Violetera, indústria de Curitiba (PR) que atua no segmento de frutas desidratadas há mais de cinco décadas.

E não é para menos. Todos os anos, a empresa coloca no mercado 3,3 mil toneladas de uvas passas, reforçando o caixa com R$ 26 milhões.

- E essa época, de agosto a dezembro, corresponde a 60% do total. Todo o nosso setor de frutas secas fatura R$ 62 milhões, então a uva passa é bem representativa. -

Produção zero

Por uma combinação de clima e mercado – por maior que seja a demanda – a produção comercial de uvas passas é praticamente zero no Brasil, segundo o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, José Fernando Protas.

- O Brasil é um grande consumidor, mas importa 100% do que consome – afirma.

O que é a uva passa?

Simples: uva e nada mais. A diferença é que as frutas que não têm tamanho adequado e outras características de mesa ficam ali, secando no ambiente, seja no pé ou estendidas no chão sobre esteiras. O processo, que dura de duas a três semanas, aumenta o tempo de validade, pois “tira” toda a água da uva, mantendo, porém, as características nutricionais. Países como o Brasil, que tem o verão extremamente chuvoso, levam desvantagem já que a secagem tem que ser feita em equipamentos especiais. De acordo com a Associação Internacional de Uvas e Videiras (OIV), dos 72,6 milhões de toneladas de uva disponíveis no mundo, 9% são destinados às passas, que resultam em 1,5 milhão de toneladas.

A unidade chegou a desenvolver uma variedade sem sementes, a ‘BRS Clara’, pensando inclusive no mercado de passas, mas hoje, reconhece o pesquisador, o custo inviabiliza a aplicação da tecnologia.

- Os grandes players são Estados Unidos, Irã, Turquia, Chile e Argentina. O que nos coloca em desvantagem é o fato de que esses países têm custo zero de secagem – diz Protas, lembrando que as áreas de cultivo são praticamente desérticas. – A uva fica murchando no pé, em alguns casos eles já colhem a uva seca. Ou, quando está bem madura, colocam no ‘tempo’ para secar. E isso nós não temos em nenhuma região. De dezembro a abril, temos muita chuva. – Aí, o jeito é secar industrialmente.

Na prática, sai mais em conta importar a iguaria e, neste quesito, os argentinos são “muy amigos”. Para além do futebol, os Hermanos são os maiores responsáveis pelos desentendimentos do lado de cá da fronteira. Em 2016, o Brasil – sexto maior importador do mundo, segundo os dados mais recentes da Embrapa – trouxe de fora 27,6 mil toneladas de uvas passas, pagando US$ 42 milhões. Do total, 84,5% tinham origem na Argentina. Em 2017, até novembro, as compras externas chegaram a 23,75 mil toneladas (US$ 35,4 milhões).

- Por causa do Mercosul, eles não pagam impostos. Com isso, a uva passa da Argentina chega pela metade do preço do que se produzíssemos nas nossas condições (com custo de produção e secagem), fora o custo de logística – explica Protas.

E se você não está no time dos que não suportam as passas, é bom agradecer, porque haja oferta para tanta demanda. Na Uniagro, de Porto Alegre (RS), a procura aumentou e a importação já está em quase 500 toneladas neste ano, um crescimento de 30% pautado, em boa parte, no uso culinário mais diversificado das uvas. E você leu direito: é mais diversificação ainda.

- Como consumidor, a uva passa não me agrada em pratos quentes, como o arroz à grega – admite o coordenador internacional da companhia, Matheus Fredrich. Mas ele não está a serviço do front inimigo. – Eu gosto muito dela em lanches, granola ou pura mesmo. -

Novos nichos

E são nesses segmentos que se encontram as maiores oportunidades. Na Uniagro, a uva passa, sozinha, já responde por 5% do faturamento total, com R$ 5 milhões. E embora não haja um levantamento completo do quanto o segmento movimenta – justamente, de acordo com a Embrapa, pela dependência das importações -, as perspectivas são boas para 2018.

- Nós estamos crescendo 15% nesse ano com esse produto, fechamos algumas parcerias para fornecer para empresas que têm marca própria – ressalta o diretor da La Violetera. – Nutricionistas estão trabalhando com elas, é um produto benéfico, com todas as propriedades da fruta, é fácil de guardar, a validade é grande. O consumo natural vem aumentando e pode crescer muito, com barras de cereais e granolas. Em fevereiro, vamos lançar snacks que também terão uva passa – acrescenta.

Pelo visto, é bom se preparar paras as uvas passas o ano inteiro. Para o bem ou para o mal.

Fonte: Gazeta do Povo



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