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RETER OU VENDER

Enquanto o Brasil corre para vender a soja que mal começou a ser semeada, os Estados Unidos finalizam sua segunda maior colheita da história em um mercado travado e sob pressão intensa. Os norte-americanos, que costumam encerrar os trabalhos de campo com pelo menos metade da produção vendida, neste ano entram no mês de novembro com apenas um quarto da safra comercializada, conferiu a Expedição Safra Gazeta do Povo em roteiro de 3 mil quilômetros pelo Meio-Oeste, o coração do cinturão de produção do país.

Os produtores norte-americanos têm, dentro das fazendas, espaço para estocar perto de 350 milhões de toneladas. Fora da porteira, as estruturas de cooperativas, cerealistas e tradings comportam mais 270 milhões a 290 milhões de toneladas. Ou seja, em circunstâncias normais, os EUA têm poder de fogo para armazenar mais de uma safra anual inteira. Mas 2015 é um ano extremo. Depois de duas colheitas de quase meio bilhão de toneladas cada e preços que sequer remuneram os custos, os produtores já não encontram espaço suficiente nos armazéns para estocar a safra. Em Iowa, o maior centro de produção do país, montanhas de milho acumulam a céu aberto nos pátios de cooperativas e cerealistas– muitas vezes debaixo de chuva.

- São os menores preços em oito anos – justifica Grant Kimberley, que, a duas semanas de encerrar a colheita, ainda tem a maior parte da safra 2015/16 e estoques da temporada passada por comercializar.

Com espaço suficiente para guardar até 95% de uma safra cheia na fazenda que mantém em Ankeny, no centro de Iowa, ele está tendo que apelar para silos-bolsa para manter a estratégia de retenção das vendas à espera de cotações melhores. Presidente da Iowa Soybean Association, Kimberley conta que, assim como ele, muitos produtores dos Estados Unidos estão tendo que recorrer aos silos descartáveis, opção que eleva os custos de produção e é pouco comum no país.

- Os produtores estão lutando contra o mercado, guardando tudo o que podem à espera de um momento mais favorável para vender. O problema é que isso pode demorar a acontecer – alerta David Kruse.

- Nunca vi tanto milho na minha vida – pontua o produtor de Royal, no Noroeste de Iowa, epicentro do que os norte-americanos costumam chamar de ‘garden spot’, uma espécie de ilha de prosperidade em uma safra que foi recheada de altos e baixos climáticos.

- Quanto mais as vendas forem postergadas, mais violenta será a queda lá na frente – adverte Alvaro Ancêde, analista do The Laifa Group, de Lisle, nos arredores de Chicago.

Mas os norte-americanos parecem decididos em segurar a comercialização à espera de um mercado mais favorável – e dispostos a reter a produção pelo tempo que for necessário. Muitos deles citam os impactos negativos do El Niño sobre a produção do Matopiba com um possível fator altista que poderia criar oportunidades de venda no primeiro bimestre do ano que vem.

- Mesmo que no fim das contas acabe não havendo uma quebra grande na safra brasileira, sustos climáticos no meio do caminho costumam movimentar o mercado – explica Kruse.

Fonte: Gazeta do Povo



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