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INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL VAI MELHORAR QUALIDADE DO GADO LEITEIRO NA REGIÃO NOROESTE DO RIO DE JANEIRO

Quem vive da produção de leite em Italva, no Noroeste Fluminense, vem enfrentando várias dificuldades nos últimos anos, como a queda de preço, a estiagem e a consequente escassez na alimentação do gado. Para mudar essa realidade, o Programa Rio Rural, a Emater-Rio e a Pesagro-Rio atuam em conjunto, incentivando a inseminação artificial do gado, a fim de promover o melhoramento genético do rebanho e aprimorar seu potencial leiteiro. Além disso, trabalham para garantir a sanidade e alimentação de qualidade para os animais. Na última segunda-feira (11/1), mil doses de sêmen foram distribuídas para onze criadores durante evento no Centro de Treinamento da Emater-Rio, em Italva.
Produtores de cinco microbacias foram selecionados para receber o material genético, adquirido pelo Rio Rural. “Para a distribuição, levamos em consideração aqueles que têm perfil multiplicador e assim incentivamos outros produtores a adotar essa técnica”, disse Carlos Marconi, supervisor local da Emater-Rio.
O programa Rio Rural, da secretaria de Agricultura e Pecuária do Estado do Rio de Janeiro também custeou a compra dos botijões nos quais as doses de sêmen são armazenadas, em nitrogênio líquido, a 400 graus negativos. Os recipientes estão sob a responsabilidade dos Comitês Gestores de Microbacias – Cogems. Os comitês e os técnicos executores do Rio Rural controlarão o número de doses a serem recebidas pelos produtores, que no próximo mês deverão fazer um curso específico de inseminação artificial no gado.
Produtores querem aumentar produção e rebanho
O produtor Ezio Garcia, da microbacia Valão da Prata, é um dos mais entusiasmados com o programa. Ele começou a fazer inseminação em seu rebanho há quase 20 anos, depois de constatar a baixa produtividade. “Eu comecei a anotar direitinho o que as vacas produziam. As melhores não davam mais do que três litros por dia. Era muito ruim. E, como algumas ainda estavam doentes, eu era obrigado a descartar parte da produção”, lembrou ele.
Mesmo sem muito dinheiro, Ezio começou a comprar algumas doses de sêmen no Espírito Santo e foi mudando o perfil do rebanho. Com o melhoramento genético, as vacas atingiram a cota de 15 litros ao dia cada uma, depois de cinco anos. “Hoje, dentro da agricultura familiar, ele tem um dos melhores rebanhos do estado, com um alto rendimento e sem os recursos de um grande criador”, explicou o técnico executor do Rio Rural, Edson Guimarães da Rocha.
Ezio tem 13 vacas leiteiras. “Você enxerga resultado. De três para 15 litros é muita coisa. Para chegar aqui, tive que investir e acreditar”, completou. Na intenção de diminuir os custos com a contratação de um inseminador, ele mesmo aprendeu a aplicar as doses depois de um curso. No sítio, Ezio guarda um botijão que precisa de reposição de nitrogênio líquido a cada 50 dias. O serviço sai por R$ 200. “Agora, recebendo as doses do programa, será melhor porque não vou ter esse custo e ainda poderei ter mais vacas”, completou ele. O produtor contou que, depois de inseminada, a vaca tem até três semanas para ficar prenha. Se isso não acontecer, é sinal de que o processo falhou e o animal volta ao cio.
Quem também se rende aos benefícios da inseminação artificial é José Corrêa, produtor de leite da microbacia Córrego do Marimbondo. Há alguns anos, ele começou a apostar no processo, mas faltou dinheiro para continuar. “A produção do inseminado é muito diferente de um gado comum, feito ‘em casa’, sem saber de onde veio o touro reprodutor. Já comprando o gado, você sabe a origem e tem certeza de que a produção é maior. Tenho algumas vacas inseminadas, mas não tenho condições de comprar mais sêmen. A gente está trabalhando ‘no vermelho’”, comentou.
Corrêa tem nove vacas leiteiras que produzem 90 litros diariamente. Com a distribuição de sêmen, ele sabe que demorará alguns anos para melhorar o rebanho, mas tem a expectativa de triplicar a produção quando isso acontecer. “Tenho um filho que trabalha embarcado e tem vontade de ficar aqui comigo, mas isso ocorrerá somente se nós tivermos condições de crescer. Agora, temos uma chance”, disse o produtor.
O criador também conta com o apoio da filha, que já demonstra interesse pela atividade no campo. Nayara tem 16 anos e pensa em cursar Zootecnia. “Isso aqui faz parte da nossa vida. Eu quero ajudar meu pai”, disse ela. O produtor fica empolgado quando fala do interesse dos filhos pela vida rural e acredita que a inseminação vai ajudar: “Eu acho que é a maneira mais fácil para o pequeno produtor melhorar o rebanho sem comprar tudo de fora, já que você não compra uma vaca que produz bem, por menos de R$ 5 mil. Vendendo o litro por R$ 0,98, vai demorar muito tempo para pagá-la e conseguir sobreviver”, concluiu.
A alimentação e o alto rendimento do gado inseminado
As vacas inseminadas com aptidão leiteira têm uma grande vantagem em relação às não inseminadas. “Com uma boa genética, as vacas têm uma conversão melhor, ou seja, conseguem transformar o alimento em leite com maior facilidade. Mesmo que elas comam a mesma quantidade que uma vaca comum, o rendimento é diferente”, explicou Wagner Nunes, técnico da microbacia Valão da Prata, também em Italva.
Além do diferencial de produção em razão do potencial genético, se a alimentação for de qualidade, os resultados serão melhores. Essa condição vem sendo desenvolvida na propriedade de Ezio Garcia. “Estamos implantando um canavial de cana-de-açúcar irrigada que tem dois cortes por ano em vez de um só. E também vamos criar o sistema silvipastoril, consorciando pastagem e espécies leguminosas arbóreas, proporcionando conforto térmico, fixação de nitrogênio no solo, com consequente melhoria da pastagem”, completou Wagner.
O plantio da cana forrageira e o sistema silvipastoril estão sendo implantados no sítio de Ezio por meio da Unidade de Pesquisa Participativa (UPP) do Rio Rural. As UPPs são polos de pesquisa dentro de propriedades rurais que levam em consideração os estudos dos pesquisadores e o conhecimento adquirido na prática pelos produtores.
Inseminação requer saúde do rebanho
A doença mais comum entre vacas é a brucelose, causada por bactéria e que pode ser transmitida para o homem. Nos animais, essa bactéria costuma causar o aborto a partir do sétimo mês de gestação. “Qualquer animal com brucelose tem de ser sacrificado. Se a vaca está com a doença e é inseminada, ela aborta e o material genético se perderá. Tem vezes que ela nem fica prenha. Hoje os casos estão bem controlados no estado do Rio e o risco é com os animais que vêm de fora”, ponderou Victor Dias, veterinário da Pesagro-Rio.
Na terça-feira (12), parte do rebanho dos produtores selecionados para receber as doses de sêmen foi vacinada. A imunização é apenas para fêmeas de três a oito meses e os animais também passaram por exame para verificação de mamite, uma inflamação nas tetas da vaca que compromete a qualidade do leite.
As veterinárias Lêda Kimura e Raquel Muller, da Pesagro-Rio, levaram uma máquina portátil que faz o exame de células somáticas, encontradas naturalmente no leite. O equipamento faz a contagem digital dessas células; se o índice é alto, o animal é tirado da linha de leite e tratado com medicamentos. Na indústria, o leite da vaca com mamite é rejeitado. “A nossa preocupação é com a qualidade do leite e com o alimento seguro. Por isso, temos que prevenir. A sanidade do animal tem que andar junto com a inseminação”, conclui Lêda, que também é coordenadora de pesquisa da Pesagro-Rio.
Fonte: Agrolink

Fonte: Canal do Produtor



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