Capim Elefante

CULTIVAR DE CAPIM ELEFANTE RENDE 30% A MAIS

Menos de três anos após seu lançamento, em outubro de 2016, a cultivar de capim-elefante BRS Capiaçu já é cultivada em todas as regiões brasileiras e está na mira de países vizinhos da América Latina. A variedade desenvolvida pela Embrapa Gado de Leite (MG) é versátil, pode ser usada no cocho ou na forma de silagem, e seu rendimento é 30% superior ao de outras cultivares disponíveis no mercado, gerando cerca de 50 toneladas de matéria seca por hectare ao ano.

A alta produtividade da nova cultivar faz jus ao nome: “Capiaçu”, que em tupi-guarani, significa “capim grande”, podendo chegar a cinco metros de altura. Para o pesquisador Francisco Lédo, que participou do desenvolvimento da nova cultivar, “a BRS Capiaçu é o maior lançamento da história do programa de melhoramento de capim-elefante da Embrapa”. Ele destaca o fato de ela poder ser utilizada para silagem a um baixo custo.

O que é a cultivar BRS Capiaçu?
É um clone de capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum) de propagação vegetativa. Apresenta porte alto e se destaca pela alta produtividade e pelo valor nutritivo da forragem, quando comparada a outras cultivares de capim-elefante.
Caracteriza-se por apresentar touceiras densas e colmos eretos (facilitando a colheita mecânica), folhas longas, largas e de cor verde. Possui boa tolerância ao estresse hídrico, mas é susceptível às cigarrinhas das pastagens.
É recomendada para cultivo de capineiras, visando a suplementação volumosa na forma de silagem ou picado verde.
Devido ao seu elevado potencial de produção, que chega a 50 t de matéria seca por hectare por ano, pode também ser utilizada para a produção de biomassa energética.
Lançada no final de 2016, com a disponibilização das primeiras mudas aos interessados em 2017, a cultivar despertou enorme interesse dos produtores de todo o Brasil.
A tecnologia BRS Capiaçu é voltada a todos os produtores de leite ou de carne, que façam uso de volumoso conservado em forma de silagem ou fornecido fresco. Também está sendo empregada na criação de equinos.
Além disso, se adapta aos diferentes tipos de solo e tolera as variações climáticas, diminuindo os riscos na alimentação do rebanho. “A BRS Capiaçu é bastante eficiente no uso da água e é tolerante a veranicos”, diz Lédo. Essas características favorecem sua adoção em diferentes regiões do País.

Por enquanto, a cultivar foi registrada no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) apenas para uso no bioma Mata Atlântica. No entanto, há produtores utilizando o capim próximo aos biomas Caatinga, Amazônia e, principalmente, Cerrado.

O chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Gado de Leite, Bruno Carvalho, informa que já estão em andamento os ensaios de Valor de Cultivo e Uso (VCU) para que seja recomendada também para uso no Cerrado. “Há ainda demanda para que o capim seja implantado em outros países da América Latina, com estudos avançados na República Dominicana”, revela Carvalho.

“A alta capacidade de produção de biomassa é o principal diferencial, no meu ponto de vista”, observa o pesquisador da Embrapa Antônio Vander Pereira, que coordenou o desenvolvimento da BRS Capiaçu.

Pereira ressalta também o elevado teor de proteína da gramínea (veja tabela abaixo).

Utilizado para cultivo de capineiras e fornecido como picado verde, o capim apresenta maior valor nutritivo, conforme explica Mirton Morenz, outro pesquisador da instituição.

“Cortado aos cinquenta dias, pode chegar a 10% de proteína bruta. Mas para a produção de silagem, é preciso que o material seja cortado com idade entre 90 e 100 dias, o que implica redução dos teores de proteína para aproximadamente 6%” (veja tabela ao lado). “Embora apresente menor valor nutritivo quando comparada à silagem de milho, a silagem da BRS Capiaçu é de baixo custo, sendo uma alternativa para a alimentação do rebanho leiteiro”, analisa Morenz.

A palavra de quem usa
Há no WhatsApp um grupo de produtores que trocam informações sobre a cultivar. São 256 inscritos, número máximo permitido pelo aplicativo. Wellington José Brandão, um dos administradores do grupo, diz que há produtores do Rio Grande do Sul a Rondônia participando, e tem sempre gente querendo entrar nas discussões. Brandão, junto com a esposa, Dayane Savagin, possui uma propriedade de cinco hectares em Sengés, cidade paranaense próximo a Castro (PR), município que mais produz leite no Brasil.

Entre vacas secas e em lactação, o rebanho de Brandão é formado por 56 animais em regime de confinamento, que produzem uma média de 500 litros de leite por dia. Os gastos com a alimentação do rebanho giram em torno de R$ 30 mil por ano. Segundo ele, com as altas e baixas no preço do leite, fica difícil alimentar as vacas com silagem de milho.

Para contornar o problema, pretende cultivar a BRS Capiaçu e fornecer como verde picado e na forma de silagem.

“Confiamos tanto na produção de leite que minha esposa abriu mão de trabalhar como farmacêutica para me ajudar na propriedade”, diz Brandão, que já encomendou as primeiras mudas da nova cultivar.

Victor Hugo Ventura tem uma propriedade em Santo Antônio do Aventureiro (MG). O relevo bastante irregular da região de montanhas, com várzeas encharcadas, dificultava a cultura do milho. Ventura, que começou na atividade há cerca de 15 anos, tinha poucas vacas (16) e picava capim todos os dias para tratar do rebanho. Antes de utilizar a BRS Capiaçu, ele testou algumas alternativas para aumentar a produção. Investiu em piquete rotacionado e comprou vacas. Mas o piquete, com cana-de-açúcar e ureia, não era suficiente e ele sempre tinha que comprar silagem de milho para inteirar a alimentação do rebanho. Chegou a melhorar os resultados da propriedade produzindo o capim-elefante Cameron, com o qual também fazia silagem.

Recentemente, Ventura deu uma guinada no projeto inicial, investindo em compost barn (veja aqui) e adotando a BRS Capiaçu. Hoje, possui 120 vacas em lactação (98 delas no compost barn) produzindo, cada uma delas, uma média de 30 litros de leite por dia em três ordenhas. Várias vacas do seu primeiro lote chegam a produzir 50 litros diários de leite.

“Essa história de que silagem de capim é para vacas de pequena produção é folclore”, afirma Ventura. O projeto dele para o ano que vem é ter 200 vacas em lactação, produzindo seis mil litros de leite diários (500 litros/hectare/dia). Para sustentar essa produção, serão cultivados doze hectares de BRS Capiaçu.

Segundo Ventura, a produção por hectare de milho gira em torno de 80 toneladas por ano. Com o capim Cameron, a produção sobe para 180 toneladas anuais.

“Já, com a BRS Capiaçu, é possível colher 280 toneladas a cada ano”, comemora.

O custo do plantio é de R$ 3 mil por hectare e, quando bem manejada, a lavoura chega a durar cerca de 15 anos.

A receita de Ventura para a silagem de Capiaçu:

– O ponto de corte do capim, grande responsável pela conversão da silagem em leite, é entre 90 e 100 dias.

– No preparo da silagem, são adicionados 8% de fubá. Ventura explica: “A silagem de capim costuma ser mais úmida e o fubá contribui para reduzir essa umidade; além disso, o fubá entra na dieta como ‘grão úmido’, melhorando a qualidade da forragem”.

– Deve ser usado inoculante para evitar a proliferação de bactérias e o material precisa ser muito bem compactado no silo.

Como adquirir mudas da BRS Capiaçu

Há pessoas não autorizadas que utilizam a internet para vender mudas piratas da BRS Capiaçu e o produtor corre o risco de comprar capim de qualidade inferior. A Embrapa só garante a procedência do produto quando adquirido de viveiristas credenciados. São sete os viveiristas autorizados a comercializar a cultivar no Brasil. Veja onde eles estão e o telefone para contato:

– ES – Água Doce do Norte: (27) 9-9605-8500

– MG – Lavras (Promudas): (35) 9-9817-0001/ Pará de Minas (Agromudas): (37) 9-9997-6652 / Teófilo Otoni (AGS): (33): 9-9110-0172

– RS – Santa Cruz do Sul (Afubra): (51) 9-9812-4641

– SP – São José dos Campos (Mater Genética): (12) 9-8820-6224 / Vargem Grande do Sul (Recando da Prainha): (19) 9-9267-0498

Tecnologia democrática
O pesquisador Antonio Vander Pereira explica que o custo elevado da silagem de milho é o que a torna inacessível a muitos produtores. Por outro lado, o custo viável da BRS Capiaçu a faz atender grandes e pequenos produtores.

“Podemos dizer que acertamos em cheio com a cutivar que é, no mínimo, 30% mais produtiva do que as outras variedades e a chave do seu sucesso é a versatilidade”, afirma Pereira.

Mas esse sucesso tem cobrado um preço: a pirataria. Por ser de propagação vegetativa (reprodução assexuada feita por meio do plantio de pequenas estacas do caule da planta), o produto tem sido pirateado com facilidade. Viveiristas não cadastrados pela Embrapa têm anunciado o produto em sites de vendas online.

“Em condições assim, não há certeza de que o comprador está adquirindo o produto correto”, adverte o chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Gado de Leite, Bruno Carvalho.

Ele ratifica que a Embrapa só garante a procedência do produto por viveiristas credenciados. Veja no quadro abaixo no fim deste texto a relação dos viveiristas credenciados pela Embrapa.

Fonte: Embrapa



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