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CONSUMO DA CIDADE, OPORTUNIDADE NO CAMPO

Nas prateleiras de supermercados e padarias, a escolha de pães ou biscoitos tornou-se uma tarefa minuciosa à medida que aumenta a oferta de grãos e cereais adicionados aos produtos. Com forte apelo nutricional, aveia, linhaça, centeio, canola e triticale entraram na dieta dos brasileiros nos últimos anos — abrindo espaço para a expansão de culturas de inverno ainda pouco expressivas em área plantada no Rio Grande do Sul.

Juntos, esses grãos somam hoje pouco mais de 200 mil hectares no Estado — menos de 20% da área semeada com trigo, que passou de 1 milhão de hectares na última safra.

O destaque é a aveia branca, que no ano passado chegou a 142 mil hectares, segundo a Emater. A evolução ressalta o potencial para que essas culturas passem a ocupar cada vez mais espaço nas lavouras gaúchas durante a safra de inverno.

Os produtos integrais já representam 30% das opções de pães no mercado gaúcho. Há cinco anos, o percentual não passava de 15%, conforme estatísticas da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas).

Mesmo com preço 60% superior aos produtos tradicionais fabricados com farinha branca, a demanda por integrais tem crescido ano a ano, segundo entidades ligadas ao setor.

— A busca por uma alimentação mais saudável e a capacitação das padarias para produzir alimentos com maior valor agregado fazem esse mercado expandir — ressalta Arildo Bennech Oliveira, presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria e de Massas Alimentícias e Biscoitos do Estado (Sindipan).

Vendas a granel em alta

Segundo Oliveira, o crescimento das vendas de pães com grãos é percebido nas mais de 6 mil padarias gaúchas. Para fabricar os produtos diferenciados com as misturas, as indústrias normalmente usam farinha de trigo integral — produzida com a moagem do cereal inteiro.

Hoje, quase 50% do trigo beneficiado por moinhos gaúchos é destinado para a indústria de panificação, segundo o Sindicato das Indústrias de Trigo do Estado (Sinditrigo) — o restante vai para produção de massas e biscoitos. As farinhas integrais respondem por 5% desse total.

— A demanda por farinha integral cresce 10% ao ano, em uma velocidade bem maior do que a tradicional — diz Andreas Elter, presidente do Sinditrigo.

Além de fazer a moagem do trigo integral, muitos moinhos passaram a produzir as suas próprias receitas multigrãos para fornecer a mistura pronta às indústrias e padarias. O mercado cresce na esteira do comportamento do consumidor, cada vez mais atento e cuidadoso com a alimentação.

Além da procura por pães integrais, cresce o interesse por cereais a granel, que acabam sendo utilizados para misturar com frutas e leite e se consolidam como opção de mercado. Na loja Reino Saudável, em Porto Alegre, especializada em produtos orgânicos e integrais, a venda a granel de linhaça, centeio, aveia, granola e chia responde por 30% dos negócios.

Pesquisa escassa e rentabilidade desafiam

Com a maior participação de cereais e grãos na alimentação humana, culturas que hoje abastecem nichos de mercado tendem a crescer nas lavouras gaúchas de inverno.

— Elas representam uma alternativa ao produtor rural, tanto para conseguir aumentar a renda quanto para a rotação de culturas — explica Luiz Ataides Jacobsen, assistente técnico estadual da Emater.

Ao proteger o solo de erosões, as culturas contribuem para os cultivos seguintes de verão, normalmente milho ou soja, acrescenta Jacobsen.

Além disso, o plantio de cereais como aveia, linhaça e centeio poderá ganhar força neste ano com o desestímulo dos produtores em relação ao trigo, que no ano passado teve a safra reduzida pela metade em razão do ataque de fungos decorrente do excesso de umidade.

Com custo de produção semelhante ao do trigo, as culturas alternativas de inverno têm como principais entraves a menor perspectiva de liquidez e a escassez de pesquisa e tecnologia na área.

— São nichos de mercado interessantes, que poderão crescer com a ajuda de pesquisas — salienta Hamilton Jardim, presidente da Comissão de Trigo da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).

Sem informações precisas, os agricultores têm dificuldade para aumentar a produtividade das lavouras e, assim, garantir rentabilidade para expandir o plantio. Culturas fomentadas por indústrias — como a cevada, por maltarias, e a canola, por usinas de biodiesel — têm a vantagem da garantia de mercado e assistência técnica.

Fonte: Zero Hora



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