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AGRICULTURA URBANA

De bairros nobres a populares, a agricultura urbana começa a ocupar espaços na região metropolitana de Porto Alegre em hortas comunitárias, terraços de prédios, varandas e até cantinhos exíguos de apartamentos. Coletivas ou individuais, as iniciativas são motivadas por razões que vão do prazer em cultivar hortaliças e temperos frescos ao desejo de buscar uma alimentação mais saudável. Seguindo um movimento mundial de aproximar a produção agrícola dos consumidores, as plantações nas cidades tendem a fazer crescer o verde em meio ao cinza das construções de grandes metrópoles.

Bem no coração do centro de Porto Alegre, no terraço de um dos prédios da escadaria da Borges de Medeiros, são produzidos cerca de mil pés de alface e rúculas por mês, além de ervas medicinais e temperos como alecrim e manjericão.

O cultivo é feito no sistema hidropônico (com água, sem uso de terra), com as mudas protegidas do tempo em estufas.

Construída em 62 metros quadrados do 9º andar de um edifício, a horta é mantida desde 2010 por integrantes da Cooperativa Mista Solidária, do Movimento Utopia e Luta. A produção orgânica é vendida aos moradores do edifício e também no “boca a boca”.

- Pessoas que ouvem falar vêm até aqui procurar os produtos. As redes sociais ajudam bastante – conta Robson Reinoso, integrante do movimento.

Recentemente, a produção passou a ser comercializada para o restaurante e bar Ocidente, um dos mais tradicionais no bairro Bom Fim. Sem o uso de agroquímicos, as plantas germinam em um pequeno bloco de fibra de coco, com a ajuda de sais minerais colocados na água. Com parte da estrutura de estufa danificada pelo forte temporal de janeiro, veio à tona um dos desafios da produção orgânica no meio urbano.

- Sem a cobertura, as plantas ficam expostas a pragas e à fuligem e aqui no Centro há muita poluição – explica Robson, que ajuda a cuidar das plantas.

Perto dali, nos jardins do Palácio Piratini, uma horta implantada pela Emater abastece os almoços e jantares de autoridades no Galpão Crioulo. O excedente da produção de tomate, berinjela, pimentão, rúcula e temperos é doado a entidades beneficentes.

- As iniciativas buscam valorizar a produção agrícola no meio urbano, onde muitas pessoas não conhecem a origem dos alimentos – destaca Lino Moura, diretor técnico da Emater.

A produção de hortaliças e frutas em grandes metrópoles ganhou força no mundo nos últimos cinco anos, com a maior preocupação da população urbana em relação à qualidade dos alimentos.

- Novas formas de interação da produção e do consumo foram criadas, com diferentes atores e menos intermediários – explica Homero Dewes, diretor do Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Cepan/UFRGS), que fomenta pesquisas e debates sobre o desenvolvimento das chamadas “urban farms” no mundo.

Embora o modelo ainda esteja engatinhando no Brasil, se comparado com as produções em escala comercial nos Estados Unidos e em países asiáticos, a agricultura urbana evolui também nas metrópoles locais:

- A tendência mundial é ampliar as áreas verdes nas grandes cidades, com o aproveitamento de todos os espaços – completa Dewes.

Colheita compartilhada em horta

Todas as manhãs, quando o dia amanhece com tempo bom, Anita Fillipin Guimarães, 67 anos, percorre o mesmo trajeto. Caminha cerca de um quilômetro de sua casa até a Horta Comunitária da Lomba do Pinheiro, na zona leste de Porto Alegre.

- Aqui eu me sinto bem. É uma terapia – conta Anita, que há menos de um ano passou a trabalhar voluntariamente na produção orgânica de hortaliças e plantas medicinais.

Com 0,7 hectare, a horta é aberta para qualquer pessoa da comunidade, com uma regra bem clara:

- Quem quiser colher, tem que ajudar a plantar – diz Lurdes Ágata, 55 anos, líder comunitária na Lomba do Pinheiro e coordenadora do projeto.

Uma das iniciativas de agricultura urbana mais antigas de Porto Alegre, com mais de 15 anos, o espaço foi reativado em 2011, após ter sido abandonado.

Hoje, recebe todas as semanas grupos da terceira idade e de alunos de universidade e do ensino básico – que ajudam de alguma forma a cuidar das plantas.

- Além da produção de alimentos, a horta cumpre uma função terapêutica para os idosos e pedagógica para os estudantes – explica o professor Flávio Burg, 52 anos, cedido pelo município para atuar no local.

Quando se fala em agricultura urbana no Brasil, as hortas comunitárias são os modelos mais comuns, seja por meio de programas públicos ou movimentos particulares.

- A maioria das iniciativas não são oficiais, por isso não se tem estatísticas.

O tema é novo também – destaca a publicitária Andréia Martins, fundadora do Centro de Inovação e Pesquisa em Sustentabilidade, entidade privada fundada há menos de um ano para incentivar projetos de agricultura na cidade.

Negócios para novos produtores

Em torno da agricultura urbana, crescem também negócios voltados ao desenvolvimento de iniciativas individuais e coletivas. Nos últimos anos, empresas e ONGs se especializaram na prestação de serviços e venda de produtos para produção de alimentos em grandes cidades.

Com sede em Porto Alegre, no Paralelo Vivo (espaço compartilhado de sustentabilidade), a startup Horteria oferece assessoria e insumos para quem quer fazer uma horta urbana, de floreiras verticais para paredes a minhocários para adubo.

- Vamos até o local, seja em apartamentos, restaurantes ou escolas, e indicamos o melhor sistema, horizontal ou vertical – explica Thiago de Melo Rocha, estudante de Engenharia Ambiental e um dos sócios da Horteria.

Com 25 hortas comunitárias e 36 hortas escolares em São Paulo e no Paraná, a ONG Cidades Sem Fome encuba os projetos durante um ano para depois torná-los sustentáveis.

- As hortas comunitárias estão baseadas em empreendedorismo. São negócios sociais, que capacitam as pessoas e geram oportunidade de renda – explica Hans Dieter Temp, fundador da ONG, criada em 2004.

Sobre projetos em telhados verdes, Temp cita restaurantes, hospitais e outros empreendimentos comerciais que estão investindo na agricultura urbana.

- Esse modelo implica em investimentos maiores, pois envolve impermeabilização das lajes e conservação das construções – explica.

Fonte: Zero Hora



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