Harmonizar a convivência de onças-pintadas com a pecuária extensiva, para minimizar a perda de bovinos, é a proposta máster do Projeto de Pesquisa, Ensino e Extensão “Estudo da Produtividade Sustentável e Conservação de Animais Silvestres em uma Fazenda no Pantanal”.
Coordenada pelo professor do Câmpus de Paranaíba (CPAR) Júlio Cesar de Souza, a pesquisa envolve professores da UFMS, pesquisadores (UFMS e outras instituições), graduandos, pós-graduandos e colaboradores da Fazenda Bodoquena, onde a pesquisa está sendo realizada.
- A fazenda chega a perder em torno de 400 animais por ano (predados por onças). O objetivo é identificar e conhecer os pontos onde ocorrem as maiores perdas de bovinos, por meio de observação direta, com o auxílio de câmeras Traps (câmeras automáticas com sensores), e por meio da telemetria. Além disso, vamos avaliar o sistema de produção de bovinos no Pantanal, visando desenvolver ações e tecnologia que possam reduzir a perda dos bovinos e conservar a onça no ambiente pantaneiro; propor um manejo diferenciado para essas áreas onde está ocorrendo o conflito; e formar recursos humanos – diz o professor Júlio Cesar, que é autor do livro “Pantanal Produzindo com Sustentabilidade”.
Tecnologia Nova
O trabalho será realizado em três anos (podendo ser estendido). Atualmente, a equipe conta com sete câmeras Traps, já instaladas pela área de estudo. A fazenda irá colaborar com a compra de mais 15 câmeras e quatro coleiras de telemetria (transmissão de dados via satélite).
- Para a captura da onça, será utilizada uma tecnologia nova, o uso de laço (trabalho coordenado pelos pesquisadores Thyara de Deco Souza e Araujo e Gediendson Ribeiro de Araujo), que possibilita a contenção do animal. O laço tem acoplado um sistema de monitoramento (transmissores VHF) que avisa o exato momento em que o animal é capturado. Dessa forma, minimiza-se o estresse do animal durante a captura – explica o professor.
Os animais capturados serão sedados e receberão uma coleira de GPS/VHF que envia a cada hora os dados de localização da onça, via satélite, para uma base de dados acessada via internet, o que permite mapear o trajeto do animal. Esta coleira possui um sistema drop off, que solta automaticamente a coleira do felino, em um período pré-programado.
Com o início da pesquisa, já está sendo feito o georreferenciamento dos pontos de ataque. Quando encontradas as carcaças de bovinos abatidos por onças, toma-se o ponto com GPS e são instaladas câmeras no local, já que as onças retornam para comer posteriormente, o que permite, a posteriori, avaliar seus comportamentos. Além disso, haverá câmeras dispersas para avaliar o deslocamento das onças e os animais que elas predam.
As onças são animais muito importantes no habitat como um todo, pois estão no topo da cadeia e são responsáveis pelo controle de populações de outros animais, como capivaras, queixadas, antas, etc. A tentativa é de se criar mecanismos de manejo para reduzir a predação dos bovinos, que, na atual situação, estão sendo uma presa mais fácil”, diz o professor.
Pelo projeto, também estão previstos três fóruns de discussão, que deverão envolver pesquisadores de diferentes universidades e centros de pesquisa, acadêmicos, fazendeiros, peões e órgãos governamentais responsáveis pelos animais silvestres. O primeiro evento deve ser promovido no segundo semestre deste ano. Com os estudos a serem realizados e os fóruns de discussão, pretende-se propor ações que possam minimizar a perda do gado e possibilitem a conservação da população de onças-pintadas na região.
De acordo com a professora Thyara de Deco Souza, o Plano de Ação Nacional para Conservação da Onça-Pintada (ICMBio – MMA) estima uma população de 250 exemplares na Mata Atlântica e na Caatinga, onde estão em situação mais crítica, e cerca de mil animais no Pantanal.
Fonte: Correio do Estado