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SUPLEMENTAÇÃO ALIMETAR

A irregularidade na distribuição de chuvas no semiárido brasileiro, além de limitar a água para consumo de animais, traz outro fator que pode provocar impacto negativo em rebanhos para produção. A pastagem nos períodos secos apresenta deficiências como a redução dos teores de proteínas e aumento no conteúdo de fibra de baixa qualidade na alimentação animal. Em virtude disso, há mais demora na digestão e redução do consumo de outros alimentos, resultando em perda de peso e de produtividade nos rebanhos.

Para minimizar essas perdas entre criadores de caprinos e ovinos, a Embrapa adotará uma estratégia de divulgação voltada para intensificar o uso de uma solução tecnológica: a mistura múltipla, como suplemento alimentar que corrige deficiências da forragem no período seco. A campanha, que será lançada no dia 7 de novembro, no SemiáridoShow, em Petrolina (PE), utilizará diversas mídias para orientar produtores rurais e técnicos do semiárido sobre a recomendação da nova fórmula desta suplementação e sobre os momentos mais adequados para seu uso ao longo do ano.

Segundo o zootecnista Diego Galvani, pesquisador da área de Nutrição Animal da Embrapa Caprinos e Ovinos (Sobral-CE), a campanha atende a demandas e dúvidas de produtores, que manifestam dificuldades na identificação dos períodos mais adequados para uso do suplemento.

- A mistura múltipla deve ser usada somente durante cinco ou seis meses no ano. Um uso que começa no período de transição do período chuvoso para o seco, quando o produtor observar sua pastagem secar, transformando-se na chamada palhada, por volta da época entre maio e junho – esclarece ele.

Este uso se prolonga até o momento em que começam as primeiras chuvas no semiárido brasileiro (costumeiramente entre dezembro e janeiro), quando o produtor começar a observar suas plantas forrageiras brotando. Neste momento, o fornecimento da mistura múltipla deve ser interrompido.

- É importante observar que este não é um suplemento voltado para altos índices de produção. Ele é utilizado para evitar que animais percam peso no período seco – destaca Diego.

A nova fórmula da mistura múltipla, recomendada aos produtores desde 2015, tem como objetivo facilitar o uso do suplemento, uma vez que dispensa o período de adaptação no consumo dos rebanhos, necessário na formulação anterior.

- Este período de adaptação se revelou um gargalo, porque poderia durar até três semanas e, caso se interrompesse, era necessário iniciar tudo novamente – explica Galvani.

Uma outra dificuldade era regular a quantidade de ureia fornecida na mistura. Ela é a principal fonte de nitrogênio na composição do suplemento, mas caso seja fornecida em conteúdo acima do recomendável, pode causar intoxicações e até mesmo levar os animais à morte.

- Com o ajuste na fórmula, dispensamos o período de adaptação e o risco de intoxicação torna-se quase nulo, uma vez que a quantidade de sal fornecida regula o consumo dos animais – afirma o pesquisador.

A partir de novembro, as recomendações para uso da mistura múltipla serão divulgadas em veículos de comunicação, mídias e redes sociais, assim como encaminhadas para públicos como produtores e técnicos de assistência técnica e extensão rural. A expectativa é replicar experiências bem sucedidas no uso do suplemento, como é o caso de Edmilson Mourão, produtor de Crateús, no sertão de Inhamuns-Crateús, que concentra os maiores rebanhos de ovinos no Ceará. Engenheiro agrônomo de formação, ele teve contato com a nova fórmula por meio de buscas na Internet, onde encontrou a recomendação em publicações da Embrapa.

- A mistura múltipla tem proporcionado uma ajuda muito boa, em um período como o atual, em que já vivemos sete anos de secas. Traz um enriquecimento na alimentação, reduzindo as dificuldades de aproveitamento da dieta – destaca Edmilson.

Estes bons indicadores têm levado o engenheiro agrônomo a recomendar a mistura múltipla a outros produtores da região, que procuram o suplemento na casa agropecuária da qual ele também é proprietário.

Mistura Múltipla

Composta por ingredientes que garantem fontes de energia e proteína, além do sal comum e suplementos minerais balanceados, a mistura múltipla para caprinos e ovinos tem objetivo de corrigir deficiências da forragem disponível no período seco, permitindo que os animais possam ingerir maior quantidade de pastagem seca diariamente. Com seu uso adequado, a perspectiva é de que a produtividade de animais de corte ou leiteiros seja mais regular durante o ano.

O suplemento pode ser disponibilizado à vontade nos comedouros, uma vez que o consumo individual é regulado pela quantidade de sal na formulação. A mistura múltipla deve ser fornecida a animais saudáveis e que tenham acesso a quantidades suficientes de forragem de baixa qualidade, como palhada, feno e outros resíduos fibrosos. Seu fornecimento deve ser evitado para animais famintos ou debilitados.

Outra recomendação para produtores que adotem a mistura múltipla é que os comedouros tenham furos no assoalho, para drenar a quantidade de chuvas não esperadas. A ureia dissolve-se facilmente na água, o que pode resultar em consumo exagerado para animais que tiverem acesso a comedouros cheios de água.

Integração com outras soluções tecnológicas

De acordo com o pesquisador Diego Galvani, a recomendação do uso da mistura múltipla também se integrará a outras soluções tecnológicas lançadas pela Embrapa Caprinos e Ovinos neste ano: o Serviço de Assessoria Nutricional Remota para Pequenos Ruminantes (AssessoNutri), lançado em julho, e o aplicativo da orçamentação forrageira para telefones celulares, que também será lançado no SemiáridoShow.

- Muitas das deficiências nutricionais indicadas a partir do monitoramento dos rebanhos pelo AssessoNutri poderão ser corrigidas com a mistura. E o aplicativo ajudará na administração da quantidade de forragem adequada – detalha o pesquisador.

O AssessoNutri um serviço de assessoria que, por meio de análises de coletas de fezes de animais com a tecnologia de espectroscopia no infravermelho próximo (NIRS), pode avaliar a composição da dieta dos animais, a qualidade nutricional dos pastos e se há necessidade dos criadores usarem suplementação na alimentação dos rebanhos. O AssessoNutri permite a elaboração de laudos com as recomendações para nutrição a partir dos resultados das análises.

Já o aplicativo vai facilitar o manejo da forragem e da reserva de alimento nas propriedades rurais, indicando o saldo forrageiro a partir dos dados sobre rebanhos e fontes de alimentação dos animais. Ele também poderá ajudar na tomada de decisões como a inserção ou retirada de animais de áreas de pastagens ou sobre eventuais necessidades de descartes em momentos mais críticos de reserva de alimentos.

Fonte: Embrapa



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