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PR: MENOS QUANTIDADE, MAIS QUALIDADE

Em uma rápida passada de olho pelo cardápio de uma cafeteria, dessas com receitas ‘gourmetizadas’, Cláudio Teodoro da Silva, de 63 anos, franze a testa em sinal de desaprovação e pede o tradicional cafezinho quente e doce de doer os dentes que aprendeu a beber com os avós na fazenda, no Norte Pioneiro.

- Café e gelo juntos? Coisa boa não dá – resmungou.

A receita de café gelado que a cada dia ganha mais apreciadores soa como heresia para quem perdeu quase tudo com a geada de julho de 1975. Quarenta anos depois, as chagas teimam em não fechar.

Porém, como definiu Euclides da Cunha, em Os Sertões, “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. No Sertão do Tibagi, nome usado para designar o Norte do Paraná nos primeiros mapas, apesar da terra fértil, as geadas surgiam constantes. Foram duas no início da década de 1950, uma em 1969 e outra em 1972. Mas nenhuma se compara a de 1975. Mesmo com todas as adversidades, a resiliência dos cafeicultores se mostrou mais forte. A adaptação que garantiu a sobrevivência dos cafezais no Estado passou pelo processo da troca da quantidade pela qualidade.

Em 2006, um pequeno grupo de cafeicultores do Norte Pioneiro se atentou para o potencial dos grãos especiais, mirando o mercado de exportação. Com parceria do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), o Projeto Cafés Especiais ganhou corpo e, em 2012, o café produzido na região obteve certificação de Indicação Geográfica de Procedência (IGP) do Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI). Atualmente, são 45 municípios e 7,5 mil cafeicultores envolvidos no projeto que produz 1,3 milhão de sacas beneficiadas por ano, o que corresponde a 50% da produção paranaense de café.

Com exceção do Norte Pioneiro, somente outras duas regiões produtoras de café no País apresentam o certificado de procedência: o Cerrado Mineiro e a Serra da Mantiqueira, ambas em Minas Gerais. Segundo o coordenador do projeto regional da Emater no Norte Pioneiro, Otávio Oliveira da Luz, a introdução do café especial nasceu da necessidade de sobreviver à crise que já durava 10 anos sem valorização do café tradicional no mercado.

- Muitas das famílias envolvidas já produzem café de excelente qualidade. Continuamos com o trabalho de conscientização das famílias dos cafeicultores. Alguns cuidados extras agregam valor ao produto final – contou.

Com a transferência de tecnologia realizada pela Emater, os cafeicultores tiveram de mudar técnicas de cultivo e manuseio do café. A primeira orientação é adquirir mudas de qualidade. Em seguida, as instruções indicam a correta proteção do solo, adubação e adensamento. A redução de agrotóxicos nas lavouras também é fundamental. Todos os produtores devem seguir regras de legislação ambiental e de responsabilidade social.

Fonte: Folha Web



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