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Pesquisas quantificam prejuízos causados no solo pela erosão hídrica

Não é de hoje que o Paraná vê pairar o fantasma da erosão
sobre suas lavouras e pastagens. O Estado, berço do plantio direto no Brasil,
andou deixando de lado algumas práticas conservacionistas que garantem um solo
equilibrado dos pontos de vista físico, químico e biológico. Hoje a principal
causa da degradação das terras agrícolas é a erosão hídrica, que ocorre quando
a força da água da chuva desprende e arrasta partículas do solo, deixando
prejuízos, inclusive no bolso do produtor.

Nos últimos dois anos, a estiagem severa tem mascarado uma
situação bastante grave. Com menos chuvas volumosas, existe a falsa impressão
de que o perigo da erosão acabou. Desta forma, em muitas propriedades, as
práticas conservacionistas vêm sendo negligenciadas. O que muitos não sabem (ou
não querem ver) é que estão dilapidando o próprio patrimônio.

Na realidade, é possível calcular o dinheiro que a enxurrada
leva embora e o ônus financeiro de um solo mal manejado. Diversas pesquisas têm
quantificando as perdas de nutrientes que acontecem quando ocorre o processo
erosivo, enquanto outros trabalhos acadêmicos destacam que o preço pago por
terras bem manejadas é maior do que aquele pago por áreas que abandonaram o
manejo conservacionista.

“Quanto maior o pacote de medidas conservacionistas que o produtor adota, maior o valor da terra”, aponta o pesquisador do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater (IDR-Paraná) Tiago Telles, e um dos autores do artigo científico “Perdas e custos associados à erosão hídrica em função de taxas de cobertura do solo”.

Para se chegar a essa conclusão, o grupo acompanhou um
experimento, conduzido no Centro Experimental de Campinas (CEC) do Instituto
Agronômico (IAC), ao longo de nove anos, em talhões em que coletores recebiam a
terra carregada pela enxurrada e contabilizava os nutrientes perdidos. “Para
estimar esses custos, os teores de potássio, fósforo, cálcio e magnésio na água
da enxurrada e na terra carreada pela erosão foram somados, convertidos em
superfosfato triplo, cloreto de potássio e calcário dolomítico, e multiplicados
pelos seus preços de mercado”, explica o artigo.

Segundo Telles, o prejuízo médio causado pela perda destes
nutrientes nas lavouras anuais do Paraná contabilizaria R$ 242 milhões. Com
base nos resultados desse experimento, considerando o Brasil, a estimativa do
custo da perda destes nutrientes pela erosão do solo está na ordem de R$ 2,11
bilhões (segundo a taxa de câmbio da época do estudo, março de 2011).

“Vale lembrar que nós verificamos apenas os custos que o
produtor teria com as perdas dos macronutrientes. Se trata de um valor bem
subestimado, pois não consideramos os custos com hora-máquina, mão de obra e
outros aspectos. Também não estimamos essas perdas nem em pastagens nem em
lavouras permanentes”, explica o pesquisador. Desta forma, o prejuízo causado
pela erosão é potencialmente maior do que estas cifras.

Este estudo mostra também que as perdas médias anuais de
água, matéria orgânica, terra e nutrientes devido à erosão hídrica variaram de
acordo com a taxa de cobertura do solo. Quanto maior a cobertura, menor a perda
destes materiais.

“Em comparação ao solo com 0% de cobertura, aquele com 90%
reduziu as perdas médias de água em 51,97%, de terra em 54,44% e de MO [matéria
orgânica] em 54,89%”, diz o trabalho.

Terra que vale ouro

Além da perda financeira, a falta de medidas
conservacionistas de manejo de solo exige um longo e dispendioso tratamento.
Estima-se que para recuperar apenas um centímetro da camada mais superficial do
solo – que também é a mais fértil – a natureza leva cerca de 400 anos.

“Se for num solo basáltico pode demorar mais de mil anos.
Varia em função da formação geológica do solo”, explica o instrutor do SENAR-PR
José Alfredo Baptista dos Santos, que ministra cursos na área de manejo de solo
e água. “Uma vez que o produtor deixou a erosão acontecer, tem que fazer um
tratamento de campo para ver qual estratégia adotar. Não tem solução se não
trabalhar em conjunto as dimensões química, física e biológica do solo”,
acrescenta.

Segundo o instrutor, que acompanha esse tema desde a década
de 1970, o Paraná já foi referência em manejo conservacionista, porém, aos
poucos, foi abandonando essa vocação. “Hoje, conservação de solo não é mais
‘murundum’ com dois metros de altura. Temos muito mais informação, existe um
conjunto de ferramentas disponíveis”, afirma, referindo-se a técnicas como
plantio direto, plantio em nível, rotação de culturas e outros processos que
preservam o solo e a água.

A adoção dessas técnicas, aliás, tem impacto direto no valor
das terras agrícolas. É isso que demonstram diversos estudos científicos, entre
eles o “Effects of no-tillage on agricultural land values in Brazil” (Efeito do
plantio direto sobre os preços das terras agrícolas no Brasil),  publicado em 2018 na revista Land Use Policy,
publicação científica da Elsevier, que tem o pesquisador do IDR–Paraná Tiago
Telles entre os autores.

O estudo considerando diversas regiões do Brasil verificou
que o hectare de terra conduzido no sistema de plantio direto vale US$ 2.305,
valor 43,2% maior em relação a mesma proporção com cultivo convencional, com
arado e grade para revolver o solo (US$ 1.609) e 135% superior ao preço da área
com cultivo mínimo, somente a gradagem do terreno (US$ 987).

De acordo com o trabalho, o Paraná é o Estado brasileiro com
maior percentual (72%) de lavouras manejadas no sistema de plantio direto,
conforme o Censo Agropecuário de 2006, produzido pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Ainda, as terras paranaenses têm a maior
discrepância de preços entre áreas com diferentes sistemas de manejo de solo. A
área que utiliza plantio direto teria valor de US$ 4.080 por hectare, 41,42%
maior que a manejadas no cultivo tradicional (US$ 2.991/hectare) e 108% mais
valiosas que a com cultivo mínimo (US$ 1.960/ha).

De acordo com o instrutor Santos, do SENAR-PR, os produtores paranaenses descuidaram principalmente da dimensão física do manejo de solo, que inclui as práticas como terraceamento, plantio em nível, rotação de culturas, entre outras, que conseguem frear a velocidade da água sobre a lavoura e melhorar sua infiltração. “Se houve compactação de terra com entrada de máquinas, essa água vai ter dificuldade de infiltrar. E não infiltrando, vai forçar o escorrimento na superfície levando embora o que encontrar pela frente: elementos químicos e matéria orgânica”, explica. A adoção dessas práticas está diretamente ligada à produtividade das lavouras. “O sujeito que tem problema de erosividade na propriedade nunca vai ser um campeão de produtividade”, sentencia Santos.

SENAR-PR prepara profissionais para elaboração de projetos conservacionistas

Atento aos prejuízos causados pela erosão, o SENAR-PR
lançou, em 2016, o curso “Manejo de Solo e Água em Propriedades Rurais e
Microbacias Hidrográficas”. A formação é voltada para engenheiros agrônomos,
agrícolas ou florestais e técnicos agrícolas, para que esses possam produzir
projetos de manejo e conservação de solo e água de acordo com a legislação
vigente. A formação está alinhada com as ações do SENAR-PR propostas no âmbito
do Programa Integrado de Conservação de Solo e Água do Paraná (Prosolo), que
surgiu justamente para recuperar as boas práticas conservacionistas no Estado.

“Cada profissional que conclui a formação torna-se um
disseminador das boas práticas na 
agricultura. Desde que essa formação foi a campo já formamos centenas de
profissionais que estão à disposição dos produtores rurais”, observa a
superintendente do SENAR-PR, Débora Grimm. Com 300 horas de duração, o curso do
SENAR-PR tem etapas presenciais e outras na modalidade Ensino a Distância (EaD).
Os conteúdos abordados abrangem toda a teoria e a prática de como escrever um
projeto de manejo de solo e água de acordo com as legislações que regulamentam
esse tema.

Para participar é preciso ter registro no Conselho Regional
de Engenharia e Agronomia (CREA-PR) e formação profissional em engenharia
agronômica, florestal, agrícola ou técnico agrícola. Vale lembrar que os cursos
do SENAR-PR são gratuitos e com certificado.

Outro curso do SENAR-PR voltado à conservação de solo e água
dentro das propriedades rurais é o “Manejo do solo em propriedades rurais”, que
tem os produtores rurais como público alvo. “Essa formação permite que o
participante realize o diagnóstico de campo da sua propriedade, avaliando tipos
diferentes de erosão, compactação de solo, índice de palhada e outros
parâmetros fundamentais para a conservação”, afirma Flaviane Medeiros, técnica
do Departamento Técnico (Detec) do Sistema FAEP/SENAR-PR.

Segundo ela, um diferencial deste curso é o diagnóstico
individual na propriedade do participante. “Tem uma parte teórica, em conjunto,
mas depois o produtor e o instrutor fazem um diagnóstico que propõe práticas de
manejo conservacionistas para a realidade daquela propriedade”, finaliza
Flaviane.

Esses e outros cursos do SENAR-PR podem ser acessados no
site www.sistemafaep.org.br.

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Fonte: Sistema FAEP



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