PÉ NO FREIO

O produtor rural de Jóia no noroeste do Rio Grande do Sul, Hermenegildo Ceolin, reduziu a área de trigo para 100 hectares nesta safra, ante os 150 hectares cultivados no ano passado. O cereal perdeu espaço para a linhaça que ocupará 40 hectares e a aveia com 10 hectares.

Ceolin (à dir.) junto com João Leopoldo Ghisleni da Löser Cereais de Jóia,  reduziu a área de trigo em quase 35%.

Ceolin (à dir.) junto com João Leopoldo Ghisleni da Löser Cereais de Jóia, reduziu a área de trigo em quase 35%.

- Pensei em não plantar mais trigo. Só vou plantar porque gosto da cultura – revela o agricultor que junto com a esposa, Odete Maria Balzan Ceolin, administra uma propriedade de 300 hectares.

Além de diminuir a área plantada, o investimento em tecnologia também será menor – na adubação a utilização de ureia caiu 20%. É que o triticultor está apavorado com o aumento do custo de produção. Ceolin conta que pagou pelo adubo R$ 980/tonelada na safra anterior e para este plantio desembolsou R$ 1.400/tonelada.

- O pensamento inicial do produtor é reduzir o investimento, mas se o tempo correr bem, ele investe – acredita João Leopoldo Ghisleni, do departamento comercial da Löser Cereais em Jóia.

Esse aumento no valor dos insumos, especialmente dos fertilizantes, devido à desvalorização da moeda nacional frente ao dólar, está entre os três fatores que estão levando muitos agricultores a pisarem no freio neste plantio do trigo. Conforme o engenheiro agrônomo da Emater – regional de Passo Fundo, Luiz Ataides Jacobsen, a divulgação da previsão de El Niño – fenômeno climático que significa chuva acima da média – problema que já prejudicou a colheita anterior; e a cotação do trigo que permanece baixa no mercado gaúcho têm desestimulado o investimento neste plantio. A Emater projeta queda de 20% nas lavouras gaúchas, passando de 1,179 milhão de hectares em 2014 para 950 mil hectares nesta temporada.

- Há um sentimento que essa redução de área possa ser um pouco maior que 20%, levando em consideração a possibilidade de El Niño, o aumento dos insumos e a baixa cotação do trigo – analisa o agrônomo da Emater.

O produtor Vasco Isidro Pillatt segue essa tendência de redução na lavoura de inverno. De 600 hectares, o trigo neste ano ocupará 400 hectares e perderá espaço para a pastagem para alimentar o gado de cria na integração lavoura-pecuária.

O produtor Vasco Isidro Pillatt em 200 hectares substituiu o trigo pela pastagem para o gado.

O produtor Vasco Isidro Pillatt em 200 hectares substituiu o trigo pela pastagem para o gado.

- O trigo no ano passado foi muito ruim, teve um prejuízo grande. E o gado, por enquanto, tá sendo um dinheiro que está dando tranquilo – destaca.

Já entre as culturas para produzir no inverno, Vasco considera o trigo a melhor opção, devido a liquides na hora da comercialização.

- Tem que fazer o que tu sabe: se não plantar trigo, vai plantar aveia e entregar para quem? – Questiona Vasco.

O triticultor não vai abrir mão do investimento em tecnologia e planta com a ideia de colher entre 55 sacas/ha e 60 sacas/ha.

- Se nós pararmos no tempo, estamos mortos – reitera.



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