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O CLIMA NAS LAVOURAS

Enquanto a chegada de uma frente fria derrubou a temperatura no Paraná, principalmente nos Campos Gerais e na região de Curitiba, nas lavouras do estado a preocupação, por enquanto, não é com as temperaturas mais baixas, mas o que antecedeu a “friaca”.

A estiagem que durou mais de 40 dias, até a última semana, atingiu, sobretudo, o Norte e o Oeste Paranaense e pegou o milho safrinha em cheio. A estimativa do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura é de que 38% das plantações estejam em fase de floração e 53% em frutificação. “Essas fases são as que mais precisam de água, isso vai refletir na produtividade”, diz o especialista do Deral na cadeia do milho, Edmar Gervásio. “Isso trouxe perdas significativas, principalmente no Oeste e no Norte do Paraná. As chuvas nas últimas semanas vão ajudar o cenário a não ser pior, mas a previsão de 12 milhões de toneladas vai cair. Não sabemos ainda exatamente o quanto, mas vai cair.”

A seca também impactou no ritmo de plantio do trigo, que está atrasado. De acordo com o último levantamento do Deral, 35% das lavouras já foram semeadas no Paraná, que responde por metade da produção nacional. Nesta época do ano, o normal seria que pelo menos metade da área já tivesse sido plantada.

“Essa semana anterior já estava bem menos crítica do que a retrasada, quando só 7% haviam sido plantados e já se poderia ter 25% plantado. Então, parte desse atraso já se desfez e para essa semana irá desfazer ainda mais, principalmente porque temos diferença de tempos de plantio entre as regiões. No Sul, já começa um pouco mais tarde mesmo”, avalia o analista do Deral, Carlos Hugo Godinho, especialista em trigo.

Geada: ainda é cedo

Com relação às geadas, tanto Godinho quanto Gervásio acreditam que ainda é cedo para falar em perdas, mas a possibilidade não deixa de preocupar pela concentração do plantio em uma faixa mais estreita do calendário (ainda que o efeito contrário também possa aparecer, ou seja, que uma porção maior de área escape do fenômeno). E isso vai ser decisivo para os preços, que, por sinal, já vêm de alta.

No caso do milho, Gervásio explica que o pela menor disponibilidade, as cotações têm permanecido entre R$ 30 e R$ 32 desde janeiro, o que significa um aumento de 50% na comparação com a safra passada. “Mas eles estabilizaram nos últimos 40 dias. Provavelmente haverá um ganho quando começar a colheita”, diz o analista, ressaltando, porém, que no Brasil a expectativa de perdas é mais moderada que no Paraná. “A produção é grande, acima de 80 milhões de toneladas, então não vai ter um impacto significativo num primeiro momento.”

Para o trigo, em que as cotações subiram na faixa de 40% em relação à última safra, a recuperação de produtividade no Brasil e a colheita na Argentina vão pontuar o ritmo do mercado. “O preço subiu, mas ainda é um pouco complicado em relação à remuneração do produtor. Uma coisa é o preço agora, outra é o preço na colheita”, afirma Godinho. “Vamos ter que ver a Argentina. Eles aumentaram a área e se tiverem uma safra boa, o setor periga ter dificuldades mesmo com a melhora do preço.”

Na outra ponta da cadeia, a situação preocupa os moinhos. Segundo Daniel Kümmel, diretor do sindicato da indústria do trigo no Paraná (Sinditrigo-PR), trigo de qualidade é produto em falta no mercado e as cotações estão elevadas fora do Brasil, também. Ele salienta que a indústria está praticamente sem estoques de passagem e o consumidor final vai sentir no bolso.

“Estamos praticamente sem estoque de passagem, já importamos muito, da Argentina principalmente. Historicamente [os moinhos paranaenses] não importavam mais, mas voltaram a comprar por necessidade”, frisa Kümmel, destacando que no Norte paranaense deve haver redução em área de plantio em função do atraso. “A gente tem perspectiva de 20% a menos de plantio. Muito produtor prefere não plantar porque perde a janela da soja. E o plantio atrasou de 25 a 30 dias. O nosso trigo começaria a ser colhido em agosto, mas vai ficar para setembro.”

Fonte: Gazeta do Povo



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