Mulheres do Agro

MULHERES DO AGRO

Levantamento realizado com mais de 4 mil mulheres, em 17 países, mostra que desigualdade de gênero no Brasil ainda é muito forte

Elas vêm conquistando mais espaço no agronegócio, dentro das fazendas ou em empresas do setor. Estão entre as que mais sentem orgulho de trabalhar na atividade, mas a maioria ainda se vê distante de ter os mesmos benefícios, salários e reconhecimentos que os homens. Essas são algumas constatações de um levantamento realizado em 17 países, com 4.157 mulheres, pela Corteva Agriscience, empresa de agroquímicos que nasceu da fusão entre as americanas Dow e DuPont. A sondagem atingiu produtoras rurais, de diferentes realidades e cinco continentes – 433 respondentes foram brasileiras – entre agosto e setembro deste ano. As conclusões foram divulgadas pela multinacional nesta segunda-feira (15/10), data que a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu como o “dia internacional das mulheres rurais.”

No caso do Brasil, alguns indicadores chamam a atenção quando comparados ao resultado global do levantamento. Um deles é resultado da pergunta “em geral, quão orgulhosa você está por trabalhar na agricultura”, em que 80% das respondentes no Brasil se disseram muito orgulhosas, contra 70% da média global. Por outro lado, há uma enorme diferença no que se refere à igualdade de oportunidades em relação aos homens. Apenas 28% das mulheres brasileiras disseram que têm as mesmas oportunidades (treinamentos, desenvolvimento e plano de carreira etc) que o sexo oposto; 78% acreditam que existe discriminação de gênero no país, contra 66% alcançados nas outras nações pesquisadas.

Quando o assunto é salário, o Brasil novamente se destaca pela desigualdade – 49% das mulheres dizem ganhar menos que os homens. Nos outros países consultados, o porcentual é de 37%. O levantamento, segundo a diretora de marketing da Corteva para América Latina, Ana Claudia Cerasoli, serviu para mostrar a real situação nos principais mercados em que a multinacional atua e, principalmente para balizar algumas ações da empresa. De acordo com a executiva, a companhia vai ampliar investimento em programas de empoderamento das mulheres do agronegócio.

“A pesquisa ajudou a mostrar as áreas mais críticas e com isso faremos alguns ajustes de rotas, principalmente em relação à capacitação e treinamentos. De positivo no Brasil foi 62% disseram que o nível de discriminação melhorou, mas a maioria ainda entende que a discriminação só vai acabar dentro de uma a três décadas. O que é bastante tempo”, acrescenta Ana Claudia.

Lideranças femininas

Entre as ações planejadas pela multinacional americana no Brasil está a criação de uma academia de lideranças femininas no agronegócio, que no próximo ano oferecerá um curto a 20 mulheres selecionadas a dedo.

O projeto piloto será executado em 2019 em parceria com a Fundação Dom Cabral, tradicional instituição de ensino, e com a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).

“O curso vai falar da parte regulatória e política no agro, questões de sustentabilidade e novos formatos de governança. As mulheres serão selecionadas dentro de um perfil de tamanho de fazendas, mas o principal é que estejam dispostas a assumir posicionamento de liderança dentro do setor. As cinco melhores vão participar de uma visita nos Estados Unidos. Quando voltarem, elas vão compartilhar o que viram com as outras do grupo”, explica Ana Claudia.

O plano da empresa é transformar o projeto numa plataforma que em 2020 atenda 300 mulheres do agronegócio brasileiro.

Confira outras conclusões do estudo

  • 78% acreditam que existe discriminação de gênero no Brasil (mais do que a média global, que é de 66%).
  • 80% das mulheres que responderam à pesquisa estão na faixa etária entre 20 e 39 anos.
  • Maior parte das entrevistadas é dona ou sócia-proprietária (44%), 24% são funcionárias, 18% gerentes e 12% supervisoras.
  • 55% são pequenas produtoras (de 01 a 19 funcionários).
  • 90% têm muito orgulho do ofício no Brasil (mais do que a média global de 70%).
  • 63% das brasileiras acreditam que atualmente existe menos discriminação do que há 10 anos (dentro da média global).
  • 44% das brasileiras consideram que o País levará em média de uma a três décadas para alcançar equidade entre os gêneros.
  • 49% dizem que ganham menos que os homens.
  • 42% dizem que têm menos acesso a financiamento do que os homens.
  • Para as produtoras brasileiras, família e estabilidade financeira estão no topo das preocupações. Por mais que tenham orgulho do que fazem, o trabalho aparece como uma das últimas prioridades.

Fonte: Globo Rural



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