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MORTE DE BOIS

A supersafra com montanhas de milho espalhadas pelo interior do Brasil não representam um problema apenas para a agricultura. Elas podem ser um risco para a pecuária, uma vez que a silagem úmida de milho é uma suspeita de conter a doença que levou à morte de mais de mil cabeças de gado no Mato Grosso do Sul.

O alimento é utilizado para favorecer o ganho de peso do gado.

Contudo, – essa técnica é usada de forma cíclica. Quando o preço do milho está favorável, seu uso é mais frequente – afirma Luiz Orcírio, médico veterinário, agrônomo e pesquisador da Embrapa.

Dessa forma, com o maior uso, há risco de haver algum estoque de milho inadequado para consumo.

- O que pode ocorrer é o micro-organismo estar presente quando a ensilagem foi processada, e as condições permitiram que ele continue se multiplicando. Como isso é tudo muito rápido, tem que ser controlado. Não é possível enxergar a contaminação – explica o especialista.

O agrônomo comenta também se existe a probabilidade de contaminação quando o grão fica exposto ao ar livre.

- O risco é o milho não estar sendo utilizado da forma correta. Mesmo sem estar antes em um armazém, pode ser feito um material de qualidade, mas no momento em que ‘se abre’ o risco de contaminação, isso pode levar ao aumento de toxinas – comenta, revelando a importância da estocagem adequada.
Prazo de validade

Quando feita da maneira correta, a silagem do milho pode durar anos, explica Sergio Raposo, agrônomo e também pesquisador da Embrapa. “Tenho conhecimento de uso até três anos depois”, afirma Raposo, um dos autores do livro Nutrição de bovinos de corte. Ele explica que para obter o milho úmido, ele é colhido antes do tempo e compactado para ter alterações de conservação e desconhecia problemas de intoxicação animal.

Ambos os especialistas detalham que a silagem pode ser produzida na própria propriedade ou adquirida.

- Mas é preciso um teor de umidade adequado, com a retirada do ar do ambiente. O que aconteceu [na fazenda atingida] é que o as condições permitiram que os micro-organismos continuassem se multiplicando – diz Orcírio.

Ele também comenta o botulismo bovino (doença suspeita de ter provocado as mortes no Mato Grosso do Sul): a toxina liberada pela bactéria geradora da doença age muito rápido e qualquer pequena quantidade pode ser letal.

- É importante que as fazendas que produzem [a silagem de milho] realizem a técnica com controle eventual, levando amostras para análises – constata.

Risco presente

Orcírio afirma nunca ter presenciado uma mortandade tão elevada de animais, mas conta que já acompanhou casos em confinamentos menores, com outros materiais utilizados para silagem – que pode ser produzida até mesmo misturada junto ao bagaço da cana-de-açúcar. Por isso, ele destaca que o caso não é um incentivo a parar a técnica de silagem de milho úmido, relativamente nova no Brasil, com menos de 20 anos.

- Este é um alerta para que sejam seguidos todos os cuidados do ponto de vista nutricional, vacinas de boa eficácia e controle [de produção]. O caso aconteceu com um produtor reconhecido, tradicional. Realmente foi uma fatalidade, mas que mostra que qualquer descuido pode levar a problemas – completa. 

Fonte: Gazeta do Povo



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