images

MERCADO DA CERVEJA

Apesar da queda do consumo per capita de cerveja no país – entre 2014 e 2017 o número saiu de 67,8 litros para 60,7 litros –,  o faturamento do setor cresceu 20% no ano passado, gerando R$ 130 bilhões. O impulso vem das cervejas artesanais, de acordo com levantamento da Euromonitor e da Nielsen. A tendência, segundo as empresas, é do consumidor continuar bebendo menos, porém gastando um pouco mais para adquirir um produto de alta qualidade.

Esse mercado crescente atraiu empreendedores como o advogado Lucas Berggren, 35 anos, que decidiu trocar o ramo têxtil pelo cervejeiro. Após trabalhar 14 anos na Ober S/A Indústria e Comércio, empresa fundada em 1962 por seu avô Oscar Adolfo Berggren, que hoje fatura R$ 420 milhões por ano, o jovem começou a desenvolver cervejas artesanais em um laboratório e vendê-las de forma experimental em Americana, no interior de São Paulo.

“Minha família sempre gostou de participar de eventos como a Oktoberfest, não só em Blumenau, como na Alemanha, e eu herdei o gosto pela cultura cervejeira”, conta.

Em 2009, o hobby se transformou em uma oportunidade de negócio diante da crise na indústria têxtil nacional. A empresa que produz tecidos à base de fibras naturais, artificiais e sintéticas e atende setores como automobilístico, calçados e limpeza doméstica, sofreu financeiramente com a entrada dos produtos chineses no mercado brasileiro.

“Após a abertura de importação para a China, a competição ficou desleal e comecei a testar os produtos que desenvolvi, obter os registros para a produção industrial, além de encomendar os equipamentos no exterior para a montagem da cervejaria”, explica Lucas Berggren.

A família Berggren, entretanto, não tinha recursos financeiros para investir na abertura da cervejaria naquele momento. Apenas em 2014, com a recuperação da saúde financeira da empresa têxtil, a família conseguiu fazer a transição do laboratório para a fábrica.

Com investimento inicial em torno de R$ 20 milhões – unindo recursos próprios e um crédito do BNDES, a família inaugurou a Cervejaria Berggren em novembro de 2015. Localizada em Nova Odessa, no interior de São Paulo, a fábrica de 27 mil metros quadrados, iniciou suas operações em 2016 com 11 estilos de cervejas e 12 tanques, produzindo 120 mil litros mensais e atendendo apenas cidades na região metropolitana de Campinas (SP).

Lucas Berggren assumiu a direção geral da cervejaria, tendo os irmãos Daniel e Oscar Neto como sócios do negócio. Enquanto isso, os irmãos e o pai Oscar Jorge continuam no comando da administração da Ober S/A.

“A operação da Ober nos deu segurança para investir na cervejaria. O negócio na área têxtil vai bem e conseguimos voltar a exportar com a alta do dólar. Porém o mercado de cervejas artesanais ainda é menos competitivo e, por isso tem potencial para se tornar mais rentável do que o têxtil”, diz o sócio e diretor geral da Cervejaria Berggren.

Após dois anos no mercado, a Cervejaria Berggren vende seus produtos em cinco estados –São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás e Distrito Federal – e aposta em mais um investimento. Diante da demanda crescente dos consumidores pelas cervejas artesanais, investiu R$ 3 milhões – 80% financiados pelo BNDES – em tanques para ampliar a fábrica e aumentar a capacidade de produção em 200%, passando a fabricar 320 mil litros por mês.

“Começamos com 11 estilos de cerveja e 12 tanques. Com alguns produtos vendendo mais que outros, não foi possível manter a variedade de oferta, por isso diminuímos para 9 estilos e optamos pela ampliação da fábrica que é totalmente automatizada, com apenas 24 funcionários”, afirma Lucas Berggren.

Com o investimento, a cervejaria pretende dobrar o faturamento este ano e chegar a R$ 12 milhões.

A Berggren Bier, premiada internacionalmente no European Beer Star, Australian International Beer Awards e U.S. Open Beer Championship, produz cervejas no estilo da Escola Americana de Cerveja, com matéria-prima de qualidade e mestres cervejeiros aptos a cumprir um rigoroso controle de qualidade. As cervejas Berggren, vendidas em torno de R$ 20,00, podem ser encontradas em redes de supermercados, pubs, tap houses, restaurantes, empórios, hotéis e festivais cervejeiros.

“Não existe cerveja cara ou barata, existe cerveja com preço justo, de acordo com a matéria-prima que a compõe”, ressalta Lucas Berggren.

Por dentro da cerveja

A composição da cerveja artesanal é a base de água, malte, levedura e lúpulo. As etapas de produção da bebida são: moagem, brassagem – mosturação, filtração, fervura e resfriamento –, fermentação, maturação e envase. O que a diferencia é a sua cor, aroma e sabor, que dependem do grau de torramento da cevada. A Berggren Witbier, por exemplo, cerveja de coloração amarelo palha, tem ingredientes como semente de coentro, raspas da casca de laranja e limão, que dão um toque de criticidade à bebida. Já a Berggren Stout, cerveja escura no estilo American Stout, tem um sabor forte e encorpado de maltes tostados e aroma de caramelo, café e chocolate.

Para lidar com a concorrência, a Cervejaria Berggren investe no pós-venda, no tempo de distribuição e entrega dos produtos, no relacionamento com o cliente nas redes sociais e também nos cervejeiros ciganos, que alugam os equipamentos da Berggren para produzir a bebida em menor quantidade.

“A concorrência é justa, pois os cervejeiros têm os mesmos custos de matéria-prima e produção. O diferencial é o trabalho que realizamos”, enfatiza o diretor geral da cervejaria.

Lucas Berggren avalia que o setor de cervejas artesanais no Brasil é um mercado crescente, influenciado pelos consumidores que pregam a cultura cervejeira e por microcervejarias que estão iniciando o processo de exportação de seus produtos.

“O público está cada vez mais interessado em degustar produtos diferenciados como as cervejas artesanais. Prova disso é que os espaços reservados para elas nas gôndolas dos supermercados estão aumentando. Atualmente também há uma preocupação maior com a saúde, por isso bebe-se menos e melhor”, analisa o empreendedor.

Cervejarias no Brasil

A Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil) contabiliza que o setor cervejeiro representa cerca de 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) e o país tem cerca de 100 mil hectares plantados com cereais destinados exclusivamente à produção da bebida.

Embora a produção artesanal ainda represente apenas 1% do setor e cerca de 2,5% do faturamento total nacional, a Associação Brasileira de Microcervejarias e Empresas do Setor Cervejeiro (Abracerva) estima que as cervejarias artesanais tendem a crescer nos próximos 10 anos, devido a popularização da cultura cervejeira, dos brewpubs – cervejarias que vendem diretamente ao consumidor final – e a possibilidade das microcervejarias aderirem ao Simples Nacional a partir deste ano.

Em 2017, o número de cervejarias registradas no país cresceu 37,7% – de 493 para 679 –, e houve a fabricação de 8,9 mil produtos, em média 13 rótulos por marca, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A maioria delas está localizada nas regiões Sul e Sudeste, concentradas em cinco dos 27 estados brasileiros: Rio Grande do Sul (142), São Paulo (124), Minas Gerais (87), Santa Catarina (78) e Paraná (67).

A recuperação da economia estimulou o consumo das cervejas artesanais, o que também incentivou as gigantes do setor a apostarem nesse segmento. A Ambev, por exemplo, comprou as fabricantes Colorado, de Ribeirão Preto (SP), e a Wäls, de Belo Horizonte (MG), em 2015.

Fonte: Revista Globo Rural



avatar

Envie suas sugestões de reportagens, fotos e vídeos de sua região. Aqui o produtor faz parte da notícia e sua experiência prática é compartilhada.


Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.