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JANELA DE EXPORTAÇÃO DE SOJA ESTENDIDA

Apesar dos preços em queda no mercado internacional, as negociações de soja no Brasil estão aquecidas e, a depender do dólar, devem se manter assim mesmo após a entrada da safra americana, ampliando a janela de exportações até meados do próximo semestre.

“O dólar mascarou os baixos preços das commodities e o produtor brasileiro tem aproveitado esse momento”, explica o diretor de commodities da FCStone, Glauco Monte.

No primeiro quadrimestre deste ano, as exportações brasileiras de soja somaram 19,8 milhões de toneladas, crescimento de 10% ante igual período do ano passado, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Só em março, esse aumento foi de 38%, puxado pelas importações chinesas. O país se recupera dos efeitos da Covid-19 sobre a economia local e, com a desvalorização do real, tem aproveitado o maior competitividade da soja brasileira e as cotações da commodity abaixo de US$ 9 o bushel em Chicago. Em abril não foi diferente. Os embarques nacionais de soja, farelo e carnes registraram recordes para o mês.

Ismael Blum Menezes, da MD Commodities, explica que o atual cenário macroeconômico tem favorecido o Brasil mesmo diante de um acordo comercial firmado entre EUA e China ainda em 2019.

“Os EUA não têm se mostrado competitivo. Talvez lá pra frente, em julho e agosto, tenham certa competitividade, mas o que temos em mente é que, muito possivelmente, o Brasil continue embarcando forte até mesmo em agosto e setembro”, avalia o analista.

Mendes ressalta que a fila de navios para embarque de soja nos portos brasileiros se manteve acima de 10 milhões de toneladas ao longo dos últimos meses, o que alimenta o otimismo com as exportações futuras.

“A gente acredita que mais de 80% da safra 2019/20 de soja já esteja vendida, um ritmo bem acelerado na comparação com outros anos e, para 2020/21, em torno de 20% já vendida”, completa Glauco Monte, da FCStone.

Além do fator cambial, Menezes lembra que o socorro de US$ 50 bilhões anunciados pelo governo americano para mitigar os efeito da Covid-19 sobre a agricultura podem contribuir para segurar as exportações dos EUA.

“Isso pode fazer com que o agricultor americano não tenha tanta pressa pra vender, o que faria com que o Brasil atingisse facilmente níveis de exportação acima de 77 milhões de toneladas”, aponta o analista.

Em seu último relatório de oferta e demanda mundial, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) destaca a maior competitividade do Brasil no mercado internacional de soja. O órgão reduziu a previsão de exportações americanas na safra 2019/20 em 1,36 milhão de toneladas, aumentando em 1,5 milhão de toneladas o total a ser exportado pelo Brasil, para 78,5 milhões de toneladas – crescimento de 5,24% ante 2018/19. Para a China, o USDA aponta uma importação de 89 milhões de toneladas, 7,8% acima do registrado na safra passada.

China preocupa

O bom desempenho das exportações, contudo, não isenta os produtores brasileiros de preocupações, que vêem com apreensão as recentes crises diplomáticas com a China, destino de 80% das exportações do país.

“A gente pode ter surpresas no caminho, mas eu tenho mais medo das surpresas políticas do que a surpresa do negócio em si”, relata o diretor geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sergio Mendes.

“Já vivi outras experiências com asiáticos e a forma deles de pensar é muito diferente da nossa. Essas provocações podem não ter repercussão imediata, mas em algum momento podem ter – e isso me assusta”, afirma Mendes, ao lembrar a crise de 2004.

Naquele ano, a China recusou carregamentos de soja do Brasil devido a inconformidades fitossanitárias, provocando um prejuízo estimado em US$ 1,76 bilhão.

“Esse é um número que eu nunca mais esqueci”, desabafa o presidente da Anec.

Na avaliação da FCStone, contudo, a China deve continuar comprando a soja brasileira enquanto houver competitividade no país.

“O objetivo principal da China é se manter abastecida. Mesmo na época da guerra comercial, se não tivesse a soja brasileira, ela não hesitaria em comprar dos EUA mesmo com as taxas impostas naquela época”, explica o diretor de commodities da consultoria.

O maior risco, contudo, está numa possível recuperação do real ante o dólar, o que apertaria as margens de exportação e reduziria a competitividade brasileira, e nas condições da demanda interna.

“Após a pandemia a primeira coisa que pode ocorrer é a queda do câmbio, já que boa parte da alta recente foi por conta das questões econômicas”, explica Monte, ao ressaltar que a queda de renda da população deve tende a afetar o consumo de proteína animal, com impactos sobre o setor de grãos.

Fonte: Revista Globo Rural



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