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GRANDE VIRADA

Inserida num cenário onde 74% de toda a produção agrícola do País está nas mãos da agricultura familiar, Roseni Maria Soares, de 54 anos, deixou a vida de faxineira após fazer um curso que mudou sua vida e se tornou uma pequena empresária agroindustrial da Região Metropolitana de Vitória, no Espírito Santo.

Residente do município de Cariacica, atualmente o foco de seu trabalho está na produção de geleias, revendidas ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), no entanto, completa o orçamento de casa produzindo biscoitos para merenda escolar. Toda a produção – composta basicamente de frutas – sai do pequeno sítio onde mora.

Nos fins de semana conta com a ajuda dos filhos. A filha do meio, de 26 anos, vai ajudá-la todos os dias, dentro de alguns meses.

- Durante a semana faço tudo sozinha. Quando a demanda cresce, recorro a eles. Meus filhos me ajudam muito com a embalagem dos produtos, com os rótulos e com a entrega – diz.

Seu negócio está em fase de ampliação. A empresária comprou máquinas para produção e procura seguir a risca o que determina a lei de vigilância sanitária.

- Estamos cumprindo com as exigências da vigilância sanitária e compramos maquinário para ampliar os negócios. O lucro ainda não chegou, mas logo virá – diz.

O maior pedido que recebeu neste ano foi a produção de 408 quilos de biscoitos para uma escola capixaba, número que varia mensalmente. Na confecção de geleias, vendidas em parte ao PAA e parte à comunidade onde vive, a demanda chega, com certa regularidade, a 500 quilos por mês.

Roseni afirma que o comércio local da zona rural, na maior parte do tempo, rende mais dinheiro aos produtores do que o obtido na área urbana do município.

- Tenho colegas que as vezes não vendem na cidade o que vendo aqui na zona rural – afirma.

Sua meta, por ora, é entrar de vez no circuito do turismo de Cariacica.

- A prefeitura me incluiu no agroturismo da cidade, estou esperando alguns detalhes para poder entrar de vez – diz ela.

O começo no Senar 

Roseni explica que desde pequena ajudava a mãe a faxinar na casa de clientes, profissão esta que seguiu para a vida. Divorciada há alguns anos, foi casada por 21.

- Um péssimo casamento, mas que me deu três filhos maravilhosos – comenta.

Natural do município Águia Branca, perto da divisa com Minas Gerais, cerca de 210 quilômetros da capital Vitória, Roseni mora em Cariacica desde muito jovem.

A mudança de vida aconteceu em 2010, quando, por necessidade familiar, teve de arrumar um emprego onde pudesse ficar em casa. Sua irmã mais velha, de 64 anos, possui uma deficiência mental que a impossibilita de ficar sozinha em casa.

Além do tempo de serviço comum das empregadas domésticas, que costuma durar o dia todo, Roseni levava cerca de 4 horas no trajeto de ida e volta para casa.

- Aqui na zona rural o ônibus sai de hora em hora. Com o passar do tempo fui ficando nervosa, já que minha irmã é totalmente dependente de mim e muitas vezes eu me atrasava para pegar a condução. Foi ficando cada vez mais difícil de administrar –  lembra.

Pertencente à Igreja do Evangelho Quadrangular desde o ano 2000, Roseni – que fala muito em Deus – relata que a perda dos pais e a dificuldade de seus outros irmãos darem algum tipo de assistência à irmã deficiente, criaram um impasse grande.

- Fiz um voto a Deus, pra ele me tirar dessa situação. Eu não aguentava mais. Pedi para conseguir um trabalho e ficar em casa, pra cuidar da minha irmã – afirma ela. 

Em 2010, após assistir reportagem na televisão, onde viu que o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) dava cursos para quem quisesse ter sua própria plantação, Roseni foi ao Ceasa mais próximo de onde mora e lá lhe remeteram à Secretaria de Agricultura. No órgão estadual, lhe indicaram então o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).

O Senar é uma entidade de direito privado, paraestatal, mantida pela classe patronal rural, vinculada à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e já formou 60 milhões de produtores e trabalhadores rurais, em mais de 20 anos. Segundo dados do relatório de atividades do órgão, em 2014, a entidade atendeu 927.971 pessoas com ações de formação profissional rural no campo.

- O Senar caiu do céu. De lá pra cá já fiz mais de 20 cursos. Muitos deles acontecem na varanda da minha casa e mobilizamos a comunidade de Roda D”Água – conta ela.

O primeiro curso que fez foi o de agricultura orgânica, ainda em 2010. A partir deste contato, Roseni abandonou a vida de faxineira e entrou de cabeça na agricultura local.

Com a mudança de paradigma, a empresária passou a incentivar outras mulheres do bairro onde mora a seguirem o mesmo caminho.

- Eu gosto de ensinar, mas por enquanto sou apenas estudante. Cedo a minha casa para as pessoas do bairro aprenderem junto comigo. Tem muitas mulheres desempregadas, com filho pra criar, sem marido, que precisam descruzar os braços e aproveitar o terreno onde moram – avalia. 

Plano Safra

Anunciado pelo governo federal na segunda-feira (22), o Plano Safra destinará R$ 28,9 bilhões de crédito para operações de custeio e investimento na safra 2015-2016. O montante representa um aumento de 20% destinado para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) em 2014.

Além do programa de créditos, o plano Safra também prevê a criação de dois programas e uma série de medidas para regulamentar a agroindústria familiar e de pequeno porte, expandir os mercados de compras públicas e ampliar a assistência técnica com foco na produção sustentável.

- Acho que o maior problema para o agricultor é a questão da vigilância sanitária. Eu concordo com a exigência, mas o prazo que eles dão é abusivo. São 15 dias para cumprir com todas as normas. Muitas vezes o pequeno produtor sequer tem bicicleta. Eu converso com o secretário de Agricultura, de Turismo e tento mostrar esse lado. Eles ajudam o agricultor, mas às vezes complicam muito – conclui ela.

Fonte: DCI



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