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GENÉTICA NO CAMPO

No dia 31 de janeiro de 2019 nasceu no Campo Experimental Sucupira da Embrapa, a termo e em perfeito estado de saúde, um zebuíno macho filho de bezerras Nelore de apenas dois meses de idade. A intervenção humana e o uso de biotécnicas de reprodução animal tornou possível um fato que jamais aconteceria naturalmente, visto que bezerras com apenas dois meses sequer estão em idade reprodutiva. Os óvulos das bezerras pré-púberes foram obtidos por aspiração folicular, fecundados em laboratório, e parte dos embriões resultantes foi transferida para vacas receptoras.

A pesquisa começou a ser desenvolvida pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia no final da década de 1990. Contudo, uma série de limitações técnicas limitavam a viabilidade econômica e, consequentemente, a adoção de animais pré-púberes como doadoras para a produção in vitro de embriões (PIVE). Este cenário, contudo, vem mudando rapidamente, em função não apenas do aumento na eficiência da PIVE, mas principalmente pelos avanços nos equipamentos para aspiração folicular orientada por ultrassonografia e também no campo da genômica. Hoje já é possível estabelecer o valor genômico de bezerras, ou seja, identificar animais melhoradores antes mesmo que estas atinjam a vida adulta e entrem em fase reprodutiva.

Para incluir fêmeas bovinas pré-púberes como doadoras de ovócitos, a equipe do Laboratório de Reprodução Animal (LRA) selecionou bezerras Nelore (zebuínas ou Bos taurus indicus) de 2 a 4 meses de idade. Elas tiveram seus folículos ovarianos aspirados e os ovócitos obtidos por meio de laparoscopia ou com o auxílio de ultrassonografia, em ambos os casos sem o uso de hormônios. Os ovócitos foram encaminhados ao laboratório e submetidos ao processo de produção in vitro de embriões, utilizando-se o sêmen de um touro da própria fazenda da Embrapa. Dos embriões obtidos de oito bezerras entre 2 e 4 meses de idade, 15 foram transferidos para vacas receptoras. Das seis prenhezes confirmadas, 4 chegaram a termo, com o nascimento de dois bezerros machos e de duas fêmeas.

A produção de embriões de bezerras identificadas precocemente como animais geneticamente superiores tem um enorme potencial para os programas de melhoramento, tanto em raças leiteiras como de corte. A técnica reduz ainda mais o intervalo entre as gerações e acelera o ganho genético dos rebanhos, contribuindo para aumentar a eficiência e sustentabilidade dos sistemas de produção de leite e carne.

“O impacto é ainda mais significativo se pensarmos que os zebuínos, maior parte do rebanho brasileiro, tem puberdade mais tardia, ao redor dos 24 meses de idade, em relação aos taurinos, mais comuns em países de clima frio, que entram em idade reprodutiva aos 14 meses”, explica o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Ricardo Alamino Figueiredo.

Os benefícios potenciais desta estratégia não passaram desapercebidos pelo setor produtivo, que reconheceu os ganhos potenciais e vem sendo demandado o desenvolvimento da técnica. Até agora, contudo, a maioria dos trabalhos nesta linha havia sido realizada com animais taurinos ou seus cruzamentos (taurinos x zebuínos). Este foi um dos motivos que levou a equipe da Embrapa e a estudante Taynan S. Kawamoto, da Pós-Graduação (Doutorado) em Ciências Veterinárias da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), a proporem o projeto de pesquisa “Folículos ovarianos antrais e alterações endócrinas em fêmeas bovinas Nelore, de dois a sete meses de idade”.

A pesquisa recebeu apoio financeiro da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) e está avaliando comparativamente os animais obtidos por fêmeas pré-púberes com os de fêmeas adultas.

Além da produção dos embriões, o projeto prevê o estudo de vários parâmetros da fisiologia e endocrinologia reprodutiva das bezerras (como dinâmica folicular e concentrações dos hormônios FSH, LH e AMH), além de aspectos relacionados à biologia molecular e epigenética de ovócitos e embriões (como eles se relacionam com as alterações promovidas pelo meio ambiente).

Brasil é referência mundial no uso da produção in vitro de embriões – O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo, com mais de 200 milhões de cabeças (IBGE, 2011), sendo 80 milhões de raças zebuínas. O País é também o maior exportador de carne bovina, segundo maior produtor de carne e sexto maior produtor de leite (USDA, 2014).

A importância econômica deste segmento alavancou o mercado de genética e, consequentemente, o desenvolvimento e uso comercial das tecnologias de reprodução assistida, da inseminação artificial à clonagem. No caso da PIVE, o Brasil tornou-se líder mundial no uso da tecnologia e chegou a responder, em 2011, por mais de 75% de todos os embriões bovinos produzidos por fertilização in vitro no mundo.

A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia teve um papel decisivo no desenvolvimento da PIVE no Brasil, sendo responsável por um dos primeiros bezerros zebuínos puros nascidos pela técnica, ainda no início da década de 1990.

Para o pesquisador Ricardo Alamino, a progressiva adoção da (PIVE) no setor produtivo, a partir de 1999-2000, contribuiu decisivamente para os ganhos de produção e produtividade alcançados pela pecuária nacional nas últimas duas décadas. Isso porque, se em condições ideais uma vaca pode produzir uma única cria por ano (por um período de 8 a 10 anos durante a vida), com o uso da PIVE é possível produzir um bezerro/vaca/semana.

Fonte: Embrapa



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