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CHINA SEGUE COMPRANDO SOJA DO BRASIL

Enquanto o acordo entre China e Estados Unidos continua como especulação, a demanda da nação asiática pela soja brasileira é realidade e continua bastante aquecida. Números já mostram que as exportações da oleaginosa do Brasil são maiores do que as do ano passado e os lineups indicam que nos próximos meses seguem fortes os embarques de soja para a China.

Segundo um levantamento da Agrinvest Commodities, o Brasil já tem 14,66 milhões de toneladas comprometidas (embarcadas + nomeadas) no acumulado do ano, contra 12,8 milhões do mesmo período de 2018.

“O fluxo continua forte no Brasil, e o ritmo está mais acelerado do que no ano passado”, explica o analista de mercado da consultoria. A soja brasileira continua mais competitiva no mercado internacional e, portanto, ainda atraindo os compradores da China, os quais ainda têm de enfrentar a tarifação de 25% caso optem pelo produto dos Estados Unidos. “E além dos prêmios, a soja brasileira ainda tem um prêmio de qualidade de 20 cents de dólar por bushel sobre Chicago”, lembra Araújo.

É destaque na mídia internacional a movimentação de alta dos preços e dos prêmios pagos pela soja brasileira nos últimos dias.

Michael Cordonnier, um dos maiores especialistas estrangeiros em agronegócio da América do Sul, diz em seu portal que “a demanda forte pela soja do Brasil continua a estimular os prêmios e os preços no interior do país”, citando a análise de Carlos Cogo, diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio.

E em entrevista ao Notícias Agrícolas nesta quarta-feira, Cogo ainda completa dizendo que veio a confirmação de que “os chineses estavam mesmo esperando a chegada da nova safra da América do Sul para voltarem às compras”, e reafirma os números recordes das exportações de soja do Brasil no primeiro bimestre de 2019 de 8,245 milhões de toneladas, 86% maiores do que no mesmo intervalo do ano passado.

“Com isso, os prêmios tendem a continuar subindo nos portos, e já vimos os meses mais adiante com valores mais altos, o que mostra a força da demanda pela soja brasileira”, diz. “E temos os dois maiores produtores mundias com redução de oferta, o Brasil por quebra na safra e os EUA com redução de área na próxima temporada”, completa.

Para o executivo, a safra brasileira 2018/19 deve ficar entre 113 e 113,5 milhões de toneladas, podendo admitir números ainda menores, uma vez que ainda há quebras sendo registradas em alguns pontos do país. Dessa forma, as exportações do Brasil poderão sim ser menores do que as recordes 84 milhões de toneladas do ano passado, mas em função de um saldo exportável menor do que o de 2018.

“Se mantivermos o ritmo como está, a situação do abastecimento interno ficará mais apertada e a disputa será acirrada”, diz Cogo. “Assim, o natural seria que o Brasil exportasse menos este ano por ter uma produção menor, mas isso não é obrigatório que aconteça”.

O mesmo alerta é feito também pela Agrinvest, com seus analistas explicando ainda o o programa de exportações de soja deste ano é “incompatível com o tamanho da oferta”.

“Para atender a produção, o Brasil teria de reduzir suas exportações na ordem de 14 milhões de toneladas”, explica Marcos Araújo, com a Agrinvest estimando a safra nacional em 113,2 milhões de toneladas.”O racionamento da demanda terá que vir na exportação ou no consumo interno”, conclui o analista.

Para Vlamir Brandalizze, a análise é a mesma.

“Neste ano temos menos soja para exportar e não vai dar para bater recorde sempre. Mas acho difícil (a venda do Brasil) cair, porque o mercado segue muito comprador. Se cair, será mais em função da falta de oferta, do que da demanda”.

Atualmente, o Brasil responde por 43% do market share, contra 40% dos EUA. Na temporada 1981/82, eram 86% dos norte-americanos e 3% dos brasileiros.

Comercialização

Ainda segundo Araújo, o Brasil deverá contar com preços fortes da soja no segundo semestre do ano e, esperando por essas melhores oportunidades, o produtor brasileiro opta por não fazer novas vendas e e a comercialização permanece travada neste momento. No entanto, o representante da Agrinvest orienta para que o produtor evite caminhar sem uma estratégia de comercialização para que não perca bons momentos de trava de preços.

“Nosso conselho agora é de que o produtor, que queira carregar sua soja no estoque, faça hedge, vendendo contratos futuros de novembro na Bolsa de Chicago e travando o dólar futuro outubro. Esperar sem ter uma estratégia é como um tiro no escuro”, explica.

Para Carlos Cogo, o ideal também é que o produtor parcele o saldo do que ainda tem para vender em três ou quatro porções para aproveitar essas oportunidades que aparecem na medida em que oscilam os fatores que compõem o preço da soja.

“E este ano os preços já estão mais altos do que no ano passado”, completa.

China x EUA

Enquanto não se efetiva um acordo entre chineses e americanos – com a possibilidade de ser revisado e assinado por Donald Trump e Xi Jinping, talvez, em 27 de março – as especulações continuam e a fragilidade das últimas conversas se mostram ainda mais claras.

Embora as conversas sobre questões comerciais tenham avançado de forma considerável, há questões políticas entre China e Estados Unidos muito mais profundas do que se pode observar a olho nu que mantém tudo o que foi costurado até esse momento sobre uma corda bamba.

“Não acredito em um acordo, mas em uma progressão para um acordo. O Trump está tentando aliviar a forte pressão interna que há sobre ele”, acredita Carlos Cogo. “E eles podem evoluir, mas talvez não para uma retirada das tarifações”.

E com a alíquota dos 25% sobre a soja dos EUA ainda em vigor, o produto se torna o menos competitivo no comércio global da commodity. Os estoques americanos, dessa forma, continuam elevados e os números de vendas e embarques semanais continuam mostrando que a China ainda não compra soja dos EUA, além das 10 milhões de toneladas da última promessa da nação asiática feita aos americanos.

Ademais, nem mesmo os US$ 12 bilhões prometidos de subsídio pelo presidente americano a seus produtores já foram pagos integralmente, o que os desestimula ainda mais. Nos EUA, alguns dos chamados “elevators”, que são como estações recebedoras de grãos pararam de receber novos lotes de soja.

A consultoria The Van Trump Report, norte-americana, traz em rápidos gráficos a forte mudança da participação dos EUA, do Brasil e do restante do mundo no mercado mundial da soja mostrando o maior equilíbrio que se observa nesta temporada.

Fonte: Noticias Agrícolas



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